Brasília, 17/7/2003 (Agência Brasil - ABr) - A delegação de atletas que vai representar o Brasil nos Jogos Pan Americanos na República Dominicana ganhou hoje um reforço de peso. Depois de ser presenteado com um uniforme da delegação brasileira que vai ao Pan, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tirou o paletó e vestiu o casaco dos atletas grafado com o seu nome nas costas. Lula também colocou o boné e desejou boa sorte ao grupo que embarca rumo aos Jogos Pan Americanos, na semana que vem.
O clima do encontro foi de muita descontração. Lula manteve a tradição iniciada por
ex-presidentes de receber a equipe brasileira para desejar boa sorte em competições esportivas de maior representatividade. O presidente iniciou o encontro um pouco discreto, cumprimentando os esportistas com simples apertos de mão. No momento de tirar a foto oficial com a delegação, porém, deixou o protocolo de lado. O presidente escolheu a sua posição e se posicionou ao lado dos atletas mais baixos. "Queria tirar a foto ao lado de alguém mais baixo do que eu", brincou o presidente.
Depois da foto, Lula atendeu ao pedido de Marcos André da Costa, da equipe de box, e fez pose de pugilista ao lado do atleta. "O presidente já lutou box, então eu pedi para alguém tirar a foto, só que não tinha ninguém. Aí eu pedi para o ministro (dos Esportes, Agnelo Queiroz), que bateu a foto", relatou o atleta. O ministro não se incomodou com o pedido. "Esses atletas estão representando os interesses da nossa pátria, e é importante que o presidente demonstre para eles que também está torcendo, que está dando todo apoio. De fato há política nacional de esporte que dará incentivo à política de esportes no Brasil", ressaltou Agnelo Queiroz.
A primeira-dama, Marisa Letícia, participou da cerimônia ao lado do presidente. Depois que Lula recebeu e vestiu o uniforme da delegação, a primeira-dama ajeitou o casaco e segurou por alguns minutos a sacola com o presente. Foi socorrida pelo presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, que entregou a sacola para um auxiliar do presidente. Marisa, porém, não perdeu o bom-humor, e agradeceu o gesto.
Brincadeiras e quebras de protocolo à parte, Lula fez questão de desejar boa sorte aos atletas. O presidente defendeu que, mais importante que ganhar medalhas, o fundamental em torneios como o Pan Americano é competir. "Todo mundo que está aqui, com essa cara bonita, está pensando em voltar com a medalha de ouro. É um objetivo importante, e vocês não podem abandoná-lo. Mas vocês não vão para uma guerra, mas para uma disputa esportiva. O que eu acho grave em nosso país é que nós aprendemos a dar valor apenas ao vencedor. A gente desaprendeu a dar valor para quem disputa", defendeu Lula.
O presidente garantiu que vai torcer de longe, e se comprometeu a receber a delegação após o Pan Americano, independente do número de medalhas que forem conquistadas. "Eu estarei torcendo para todos vocês ganharem o máximo que puderem ganhar. Mas se alguém não conseguir ganhar, podem ficar certos de que nós teremos o mesmo carinho e o mesmo respeito que teremos por aquele que ganhou", enfatizou.
Os atletas gostaram do recado, mas diante da expectativa de ganhar medalhas acabaram destacando a importância de trazer de volta ao Brasil resultados concretos do torneio. "Fica chato (discordar do presidente), mas desculpa. O importante é ganhar. Eu estou me dedicando muito só para ir competir, eu quero ganhar. Tem um pedaço da minha vida que eu estou investindo. Eu estudo menos, eu trabalho menos, então estou trabalhando muito para ganhar", defendeu Altamiro da Costa, karateca que já conquistou duas medalhas em jogos Pan Americanos. Este mês ele foi sagrado campeão Sul-Americano.
Com a experiência de quem já representou o país pela seleção feminina de basquete, a ex-jogadora Maria Paula Silva, a Magic Paula, atual secretária de Esportes de Auto-Rendimento do Ministério dos Esportes, disse que os atletas "têm que encarar o desafio com satisfação", principalmente diante da falta de infra-estrutura adequada à prática desportiva no país. Situação que, na opinião de Paula, vai começar agora a melhorar como resultado da lei de incentivo às modalidades olímpicas. Paula acredita que o Brasil vai ser sempre o país do futebol, mas está otimista que, com o passar do tempo, os brasileiros percebam que "há espaço também para outros esportes".
A equipe brasileira nos Jogos Pan Americanos será a maior da história desde a Segunda Guerra Mundial. No total, 721 pessoas entre atletas, técnicos e preparadores físicos vão representar o país em Santo Domingo.
Enquanto muitos atletas vão fazer a sua estréia na competição, para outros o Pan terá um sabor de despedida. É o caso do tenista Fernando Meligeni, que anunciou o fim de sua carreira nas quadras quando retornar da competição. "Estou me sentindo um velho, vou de bengala para o Pan. Mas você vê a determinação da galera, o pessoal se importa e quer levar o nome do Brasil da melhor maneira. Eu sempre falo que eu queria abandonar as quadras numa competição como essa", disse.
O presidente Lula aproveitou o encontro com os atletas para defender a candidatura do Rio de Janeiro às Olimpíadas de 2012. Na opinião de Lula, os atletas devem se unir a todos os brasileiros para fazer uma "corrente muito forte" em prol da cidade. O fato de o Rio de Janeiro ter sido escolhido para sediar os Jogos Pan Americanos de 2007 também representa, segundo o presidente, uma chance a mais para o Brasil sediar as Olimpíadas. "Eu penso que os Jogos de 2007 serão um teste de competência que o Brasil tem para realizar um evento dessa magnitude", enfatizou.
Gabriela Guerreiro e Stênio Ribeiro