Brasília, 17/7/2003 (Agência Brasil - ABr) - Perplexidade, indignação, tristeza, compaixão, incompreensão e vergonha. A complexidade de sentimentos é transparente no rosto das pessoas que visitam o Labirinto da Alfabetização, montado pelo MEC como parte das exposições da 55ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Recife.
O Labirinto, uma das novidades levada em maio para a XI Bienal Internacional do Livro, no Riocentro, em sua reedição para a SBPC, tem atraído, diariamente, um grande público. Os principais interessados em enfrentar as dificuldades dos que não sabem ler e escrever são os professores e educadores. Ontem (16), feriado na capital pernambucana, em comemoração ao aniversário de Nossa Senhora do Carmo, a fila para mergulhar por seis minutos no universo do analfabetismo aumentou consideravelmente.
"Tenho parentes e amigos analfabetos e imediatamente me lembrei das situações embaraçosas que eles enfrentam", afirmou o eletrotécnico Ricardo Andrade Araújo, 26 anos. "Eu já tentei muitas vezes alfabetizá-los, mas eles se recusam por vergonha", emendou Ricardo.
As estudantes de magistério Bruna Raquel Dias de Sá, 21 anos, e Josilene Eliane da Silva, 31 anos, ficaram comovidas e incentivadas a concluírem o curso. "Saí constrangida e quero poder ensinar assim que me formar", disse Josilene. "A educação no Brasil é precária, mas depende de cada um a vontade de ensinar e aprender", completou Bruna.
Acompanhado da mulher e do filho, o desenhista Francisco José Brandão de Andrade, 40 anos, achou a idéia do governo em mostrar a vivência singular do analfabeto interessante. "No mundo atual, quem não sabe ler fica perdido e enfrenta problemas até para se alimentar", explicou o desenhista. "Sempre estive ciente das dificuldades do analfabeto, mas não tinha tanta dimensão do desolamento em que ele vive. Creio que o problema é bem maior do que foi mostrado", avaliou Sueli Vasconcelos, professora do ensino fundamental. "Pude sentir, com sinceridade, como a pessoa que ignora o alfabeto é dependente das informações de terceiros", sintetizou Adriana da Costa, também professora.
As expositoras que acompanham os grupos, formados em média por seis visitantes, são as principais testemunhas de quanto o Labirinto mexe com a consciência do público, tanto dos alfabetizados quanto dos não-alfabetizados. "Tem gente que, ao final da visita, se emociona e aplaude", conta Marina Barros. "Vi uma senhora, que está começando a ser alfabetizada, sair chorando", recorda.