Presidente Lula quer debater Previdência com radicais

27/06/2003 - 15h44

Brasília, 27/6/2003 (Agência Brasil - ABr) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje que quer abrir um debate com os grupos contrários à reforma da Previdência. "Eu estou doido para debater previdência, mas o presidente não pode se meter em tudo. Eu adoraria participar dos debates porque, para mim, quanto mais radical melhor", observou o presidente. Ele participou hoje da abertura do 2º Encontro Nacional de Vereadores e Deputados Estaduais do PT, em Brasília.

Lula afirmou que o país ainda não tem o dinheiro que precisa, mas que o governo está no caminho certo. Para o presidente, ninguém tem que ter vergonha por fazer as reformas que, garante, são necessárias à população. "Não estamos querendo tirar direito de ninguém. Queremos aumentar os direitos de quem não têm direitos nesse país, de quem está excluído"

Segundo ele, o fato de um professor universitário se aposentar aos 60 anos não é uma punição, mas uma maneira de manter, na universidade, a inteligência brasileira. "Queremos valorizar o profissional para que ele, no auge de sua capacidade intelectual, continue dando aula", explicou. "Da mesma forma que não queremos penalizar um juiz ou qualquer outra pessoa", disse. O presidente afirmou não ser justo um cortador de cana ter que se aposentar depois dos 60 anos, enquanto um trabalhador urbano o faça com 53 anos. "Queremos apenas fazer justiça, não estamos diminuindo o salário de ninguém".

Pelas contas do presidente, se um trabalhador federal paga 11% quando está na ativa _ e, ao se aposentar, deixa de pagar, passa a receber salário integral _ estará recebendo, portanto, 11% de aumento. "Por isso estou pedindo: companheiro deixe esses 11% para a gente poder contribuir para que o teu filho ou teu neto, amanhã, tenha o direito de se aposentar. Não estamos fazendo nenhum mal e nem querendo privatizar a Previdência", afirmou Lula. Segundo ele, não se pode mais aceitar que uma minoria determine as condições de vida da maioria.

O governo quer criar alternativas para a população obter empréstimos a juros inferiores às altas taxas cobradas pela empresas de crédito, que chegam a 333% ao ano. Segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a taxa básica de juros, selic, é elevada mas não é ela que está "matando o povo". Segundo o presidente, os juros elevados estão dificultando os investimentos do Estado. "O engraçado é que eu nunca vi as pessoas fazerem discurso dizendo o porquê de um companheiro comprar um liquidificador em em 12 meses a juros de 116% ao ano".

O Brasil precisa, segundo Lula, criar alternativas e adotar uma política internacional mais competente e ousada. Para o presidente, não basta apontar os problemas, como o da fome, da prostituição e da miséria, mas, também, os potenciais. Lembrou que o Brasil, ao participar da reunião do G-8 (grupo dos sete países mais ricos do mundo, mais a Rússia), admitiu ter problemas sociais _ mas que não iria manter uma relação de subordinação com as nações mais poderosas do planeta."Nós nos respeitamos e temos auto-estima", disse Lula.

O presidente falou que a herança do governo anterior quase o fez "chorar". Ressaltou, no entanto, não haver tempo para ficar se lamentando. "A gente tinha que pensar o que fazer, afinal de contas, um mandato é de apenas quatro anos e a gente não tinha tempo de ficar apenas culpando quem passou antes de nós. Tínhamos que começar a dizer o que que iríamos fazer a partir de nós".

Segundo ele, a primeira medida a ser tomada _ montar um time _ já se concretizou. "Mas montar um ministério no Brasil é como montar a seleção brasileira. Como tem muitos jogadores, há sempre alguém que vai ficar de fora", observou. "Não aumentamos muito os ministérios, apenas fizemos o necessário".

Lula lembrou que quando era pequeno, sua mãe costumana dizer: "meu filho, cachorro de muitos donos morre de fome porque todo mundo pensa que pôs comida e ninguém pôs". Explicou, ainda, que não adianta colocar "300 funções", porque apenas um homem não vai dar conta de assumi-las.

O presidente disse estar tranqüilo e certo de que irá cumprir não apenas o que foi colocado no programa de governo. Vai também seguir o que classificou de "a razão" de ele ter entrado na vida política brasileira: "Vamos cumprir as coisas em que acreditamos, e o que é possível fazer, sem pressa e sem afobamento", declarou o presidente. "Um pé de feijão que a gente planta tem que esperar 90 dias para colher e muitas vezes somos afobado e queremos colher antes de plantar. A gente tem que dar tempo às coisas que a gente quer fazer".

No próximo mês, de acordo com o presidente Lula, o governo vai fazer uma apresentação do que já foi feito em cada ministério. "Não tenho dúvidas em afirmar, antecipadamente, sem ter o resultado, que nesses seis meses nós já fizemos muito mais do que qualquer governo fez em seis meses.