Festa do Boi movimenta vida e economia de Parintins

27/06/2003 - 12h50

Parintins (AM), 27/6/2003 (Agência Brasil - ABr) - Estar em Parintins é como viajar no tempo. A ilha, de 96 mil habitantes, fica a 420 quilômetros de Manaus. O lugar chama a atenção não só pelo folclore, mas por detalhes peculiares do cotidiano dos moradores. As ruas não possuem semáforos, o que constantemente ocasiona acidentes entre veículos. Ou melhor, não possuía até esta sexta-feira, quando as obras de sinalização de trânsito começam a ser feitas às pressas para serem concluídas antes da abertura do Festival Folclórico de Parintins, amanhã (28), às 21h.

A cidade possui cerca de 15 mil motocicletas e apenas dois mil carros, entre táxis e veículos de passeio. A explicação está na tradição dos moradores e no custo para transportar um carro de navio para a ilha, que é de R$ 600. xistem pelo menos 38 lojas de aluguel de motos. A diária custa R$ 15, mas chega a R$ 30 na época do Festival. O transporte de passageiros em triciclo e mototáxi custa R$ 1,50. Durante o período da festa, o preço pode triplicar.

Quem trabalha como mototaxista consegue faturar, em média, até R$ 600 nos três dias de Festival _ o equivalente ao salário mensal desses mesmo trabalhadores durante o resto do ano. Bicicletas e triciclos, no entanto, são os meios de locomoção mais populares em Parintins. São usados tanto para levar as crianças à escola como para a ronda dos policiais militares. Na ilha, os triciclos também são usados como feiras ambulantes.Levam frutas, verduras,bonés, toalhas e outras mercadorias.

Em Parintins é comum presenciar cenas de moradores a pé empurrando caixão de defunto em carrinho de madeira até o cemitério, que fica no Centro da Cidade.

A economia de Parintins gira em torno do boi, seja o do Festival, ou o animal criado pelos produtores rurais. Da renda mensal de R$ 8 milhões gerada pela cidade, 20% vem da pecuária, principal fonte de renda permanente. Parintins possui o maior rebanho do estado do Amazonas, com criação de 250 mil cabeças de gado. O restante da economia é gerada por meio de comércio e prestação de serviços. De acordo com a prefeitura de Parintins, nos meses de maio e junho são gerados cerca de cinco mil empregos diretos.

Já o boi de pano, apresentado durante o Festival, gera um aquecimento na economia de forma a triplicar a renda mensal da cidade para R$ 24 milhões, no período de 15 de junho a 15 de julho. Essa movimentação gira em torno de investimentos, turismo e prestação de serviços, para reforma de casas e recuperação da cidade.

TURISMO

Parintins caminha para firmar sua economia no turismo. Desde 2001, a prefeitura tem se empenhado em criar um calendário permanente de festivais para atrair turistas e aquecer a economia também fora do Festival Folclórico. Durante o ano, artistas locais participam na cidade da festa de Carnaval, da encenação da Paixão de Cristo (que atrai moradores das regiões vizinhas), da Festa da Padroeira, do Festival de Verão, e do Reveillon de Parintins. "Esses eventos são uma maneira de absorver mão-de-obra local e atrair o turismo para a cidade", afirma o vice-prefeito e secretário de Obras, Frank Bi Garcia.

A idéia é atrair turistas durante todo o ano, e com isso, aumentar o número de pousadas, hotéis, o movimento de táxis e os passeios de barcos _ que custam, em média, R$ 500 para grupos de dez pessoas. É costume os moradores de Parintins alugarem pousadas e quartos para o Festival, que custa, no mínimo, R$ 1,2 mil a suíte de casal, por uma semana. O faturamento do mês, para muitos moradores, representa lucro para o resto do ano, por conta do desemprego que aumenta na cidade após a festa.

Para amenizar o problema da falta de emprego, o governo federal implantou em Parintins, há 15 dias, um Centro de Geração de Renda para qualificação de mão-de-obra jovem. Cerca de 380 pessoas poderão ter acesso gratuito a cursos de idioma inglês e espanhol. A prefeitura está em fase de negociação de parceria com o governo estadual para oferecer aos moradores de Parintins também cursos de informática.

Nádia Faggiani