Brasília, 10/12/2002 (Agência Brasil - ABr) - Cerca de 3% dos eleitores receberam oferta de candidatos ou de cabos eleitores para vender o seu voto nas últimas eleições. A informação, parte de uma pesquisa, foi dada hoje pelo conselheiro da organização não-governamental Transparência Brasil, o cientista político Bruno Wilhelm Speck. "Esse número é muito grande, mas não quero crer que essas três milhões de ofertas de compra tenham sido aceitas. Para a Justiça Eleitoral, enquanto houver uma tentativa, temos que lutar contra", afirmou o ministro do Tribunal Superior Eleitoral, Fernando Neves.
Segundo Speck, essa é a segunda pesquisa sobre a prática de compra de votos realizada pelo Ibope a pedido da Transparência Brasil e da União Nacional dos Analistas e Técnicos em Finanças e Controle, entre 14 e 17 de novembro de 2002. Foram ouvidas duas mil pessoas. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.
A pesquisa revelou que o dinheiro está em primeiro lugar, com 56%, entre os benefícios oferecidos, seguido por bens materiais, com 30% e favores da administração, com 11%. Nas eleições municipais de 2000, pesquisa do gênero revelou que 6% dos eleitores afirmaram ter recebido oferta de vendas de votos por dinheiro. Também foram entrevistadas duas mil pessoas, mas apenas com relação à oferta de dinheiro.
O conselheiro da Transparência Brasil esperava que as pessoas mais procuradas para a compra de votos seriam os menos instruídos, os mais pobres e os moradores do interior, porém a pesquisa não confirmou a expectativa. "Ao contrário ela apresenta quase a mesma incidência da oferta de compra de votos para todas as faixas de renda, para todas as regiões, ou seja tanto no interior como na área urbana, e também para todos os níveis de escolaridade. Isso é um dado surpreendente. Não sei explicar, mas contradiz nosso entendimento anterior", disse Speck. Mas, ele ressaltou que há diferença entre as regiões. As pesquisas mostram que, tanto em 2000 como de 2002, o Norte, o Centro Oeste são as mais vulneráveis, seguidas do Nordeste.
Pelo Código Eleitoral a transação de compra de votos é crime eleitoral. A pena é de até quatro anos de reclusão. O ministro disse que, apesar de diferenças nas pesquisas, ele acredita que a prática de compra de voto vem diminuindo. Ele ressaltou que atualmente a Justiça Eleitoral possui instrumentos eficazes para afastar um candidato que tente comprar votos.
Para o conselheiro Speck, pelas pesquisas não é possível dizer que a corrupção eleitoral diminuiu ou aumentou, pois elas não são uma série histórica. Ele ressaltou que é preciso fazer pesquisas mais detalhadas e regionalizadas. A intenção da Transparência Brasil é realizar pesquisas deste gênero por estados.