São Paulo, 9/12/2002 (Agência Brasil - ABr) - O próximo governo espera um resultado promissor nos contatos com as autoridades norte-americanas, segundo afirmaram hoje o porta-voz do governo eleito, André Singer, o coordenador da equipe de transição, Antônio Palocci, e o senador eleito pelo Partido dos Trabalhadores (PT-SP), Aloizio Mercadante, momentos antes de se juntarem à delegação do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, em sua viagem aos Estados Unidos.
O avião com a comitiva, da qual também faz parte a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, decolou às 9h55, do aeroporto internacional de São Paulo, em Guarulhos, com escala prevista em Roraima e chegada a Washington às 17h30, no horário local (20h30, horário de Brasília). Por causa da pista molhada e da chuva fina, a aeronave, um Legacy Executive, da Embraer, com capacidade para 18 lugares, aguardou por mais de dez minutos a autorização da torre de controle para iniciar a operação de decolagem. Lula entrou pelo acesso privativo do aeroporto, sem falar com os jornalistas.
Ao passar pelo portão de embarque, o porta-voz, André Singer, disse que o ambiente nas relações diplomáticas é favorável e que Lula está otimista, em função das demonstrações de boa vontade do governo norte-americano, desde a sua vitória nas urnas. Segundo Singer, o encontro de Lula e o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, que não tem assunto específico em pauta, servirá para estreitar relações. Para o coordenador da equipe de transição, Antônio Palocci, a expectativa é positiva, "pois essas relações internacionais, tanto em nível diplomático quanto comercial, são fundamentais para o equilíbrio das nossas contas externas".
O senador eleito pelo PT, Aloizio Mercadante, destacou que o Brasil sofreu um forte corte nos fluxos de linhas de crédito, assim como na América Latina, agravado pela crise na Argentina. Mas, como o Brasil conseguiu superávit comercial significativo com mais de US$ 12 bilhões e redução da necessidade de dinheiro novo de US$ 25 bilhões para algo em torno de US$ 10 bilhões, não há nada que justifique que os bancos internacionais não restabeleçam o crédito para o país, que está honrando seus compromissos, vem melhorando suas contas externas e planeja abrir o comércio.
Para Mercadante, Brasil e Estados Unidos não podem ter um volume de trocas em torno de US$ 30 bilhões, como tem hoje. "Nossa expectativa é dobrar esse volume em quatro anos e chegar a US$ 100 bilhões, em oito anos", revelou. Sobre a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), ele disse que a postura é de aguardar uma evolução, já que a proposta inicial dos Estados Unidos não agrada ao partido. "Eles elegeram 512 produtos como sensíveis, que só podem ser negociados sob autorização do Congresso norte-americano e que são, exatamente, os produtos de nossa área de interesse, incluindo agricultura, setores semelhantes", afirmou,
Segundo Mercadante, os Estados Unidos aumentaram os subsídios no setor agrícola, o que prejudica a competitividade dos produtos brasileiros, mesmo sendo mais eficientes, e até agora não há nenhum mecanismo para compensar os países mais pobres, como a Europa teve, nenhuma perspectiva de organismos democráticos como o Parlamento Europeu, que foram essenciais na integração – "generosa e muito além do interesse da principal potência, no caso da União Européia".
O fato de o convite para esta visita ter partido do governo norte-americano, antes mesmo de o presidente eleito tomar posse, demonstra, segundo Mercadante, a importância do Brasil no cenário internacional. "Esse contato direto pode abrir um diálogo importante para o avanço da agenda bilateral e para que o Brasil, com a liderança que exerce na América Latina, contribua para a estabilidade democrática econômica e social da região," disse Mercadante.