Aparelho produzirá radioisótopos a custo mais baixo

09/12/2002 - 15h26

Brasília, 9/12/2002 (Agência Brasil – ABr) - O Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) realiza os últimos testes de um gerador via gel de tecnécio-99m, elemento radioativo responsável por cerca de 90% dos exames diagnósticos em medicina nuclear. O aparelho utilizará molibdênio-98, produzido no país, para a geração de tecnécio-99m. Normalmente, esse radioisótopo é obtido a partir de molibdênio-99, importado do Canadá e da Bélgica, produzido por fissão do urânio-235, num processo que gera rejeitos radioativos.

Segundo João Alberto Osso Júnior, um dos responsáveis pelo projeto, além da vantagem de não gerar lixo atômico, o tecnécio produzido via gel representará uma economia de aproximadamente US$ 150 mil por ano para os cofres públicos. O pesquisador acrescenta que nos dois processos o elemento gerado é o mesmo, tecnécio-99m.

Por ter meia-vida curta, de apenas seis horas, período em que sua atividade radioativa decai pela metade, o tecnécio precisa ser produzido praticamente na hora de sua utilização. João Alberto acrescenta que o radioisótopo deve ser utilizado de acordo com uma tabela indicadora do tempo decorrido desde a irradiação do molibdênio. No Brasil, o Ipen é responsável pelo preparo e distribuição desses geradores. "Em 1981, produzíamos 10 geradores de tecnécio e hoje são mais de 240. A demanda cresce cerca de 10 a 15% a cada ano", conta João Alberto.

O gerador produzido pelo Ipen é composto por uma blindagem de chumbo contendo o molibdênio, elemento com meia-vida maior (66 horas), que permitirá a produção de tecnécio. Numa das extremidades desse gerador, coloca-se um frasco com solução salina de cloreto de sódio (soro), que ativará a produção. Em outra extremidade, outro frasco em vácuo, também envolto em blindagem, recolherá o tecnécio-99m. O processo chama-se eluição. A diferença do gerador em pesquisa para o modelo produzido atualmente é que o molibdênio contido na blindagem está em estado gel no primeiro, enquanto no segundo está incorporado a um sólido, o óxido de alumínio.

Embora existam outros radioisótopos, o tecnécio-99m predomina na medicina nuclear devido à sua disponibilidade e menor custo de obtenção e processamento. A substância é usada em exames de cintilografia para visualizar imagens do cérebro, de glândulas salivares e da tireóide. Combinado a reativos liofilizados (em pó), permite obter imagens dos ossos, fígado, pulmão, rins, entre outros órgãos. Em investigações cerebrais, por exemplo, o pertecnato (forma química em que o tecnécio se apresenta ao ser eluído do gerador) tende a se acumular nas lesões intracranianas com maior vascularização ou em obstruções por coágulos sangüíneos. Com um aparelho de imagem, a gama câmara, o médico consegue visualizar esse acúmulo, o que permite diagnóstico mais preciso.

Outro exemplo de como o avanço da medicina nuclear proporciona ganhos para o paciente é a técnica utilizada no tratamento do câncer de mama. Normalmente, a região do tumor é demarcada com um fio de aço, a paciente vai para casa com o dispositivo e se submete à cirurgia no dia seguinte. Um procedimento já adotado com o radioisótopo é injetar a substância - no caso o tecnécio marcado com estanho coloidal - que, por afinidade com o tumor, migra para o local, deixando-o marcado. A radioatividade do tecnécio pode chegar a 20 milicuries (unidade de atividade radioativa) em uma cintilografia óssea. Doses como essa não representam nem um décimo das recebidas em uma radiografia de tórax.

Cerca de 1,8 milhão de pessoas, em aproximadamente 260 clínicas e hospitais credenciados pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), recebem os geradores produzidos pelo Ipen. A previsão de João Alberto é que o gerador de tecnécio via gel comece a ser distribuído a partir de março de 2003.