Brasília, 29 (Agência Brasil - ABr) - O presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou a reunião ministerial de hoje - a última de seu governo - para sugerir ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva que mantenha a política externa brasileira com a atenção voltada para os países latino-americanos, sobretudo com os parceiros do Mercado Comum do Sul (Mercosul), Argentina, Uruguai e o Paraguai. Na reunião, realizada no Salão Oval do Palácio do Planalto, Fernando Henrique destacou a importância de um estreitamento das relações com os Estados Unidos.
Segundo Fernando Henrique, Lula poderá contar com seu apoio, não como filiado ao PSDB ou na condição de político ativo, que pretende continuar sendo, mas na posição de um cidadão interessado e preocupado com a solução dos problemas nacionais e com a efetiva inserção do Brasil no cenário político-econômico internacional.
Para o presidente, é necessário que o Brasil prossiga nos entendimentos com os parceiros do Mercosul e também com os demais países fronteiriços, como Chile, Bolívia Venezuela e Colômbia, com alguns dos quais compartilha uma área de fronteira terrestre de 16 mil quilômetros e de 8,5 mil marítimos, extensão significativamente mais expressiva do que a existente entre os Estados Unidos e o México, que é de 3 mil quilômetros. Ele se referia às perspectivas
positivas, econômicas, políticas e sociais com os países latino-americanos que poderão assegurar o crescimento econômico conjunto
Aplaudido de pé pelo vice-presidente Marco Maciel, ministros, líderes dos partidos aliados e pelos comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, o presidente enfarizou que o
Brasil, mais do que nunca, está defendendo seus interesses econômicos na relações com os países ricos, recorrendo, sempre que necessário, à Organização Mundial do Comércio (OMC) com essa finalidade.
"Esses interesses se manifestam não apenas nos grandes problemas políticos internacionais, mas no cotidiano da defesa de nossa economia. Nunca o Brasil reclamou tanto na Organização Mundial do Comércio como agora, nem no GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio, que precedeu a OMC), nunca. Nunca houve tantas questões levantadas por nós em defesa da nossa
economia contra quem quer que seja, Estados Unidos, Canadá, União Européia, Japão, quem quer que seja", disse o presidente.
Ele disse que, no passado, o Brasil não tinha sequer competência jurídica para enfrentar tais pendências comerciais e, agora, dispõe de mecanismos legais que garantem inclusive mais acesso dos produtos nacionais ao mercado externo, numa parceria envolvendo governo e empresariado. "Agora começamos a tê-los, não só o governo, os empresários também, e estabelecemos sempre um canal de comunicação com os empresários para que possamos efetivamente defender os interesses que não são deles só, são do Brasil. Quando sejam interesse
deles só, problema deles, quando é do Brasil, o problema é nosso também. Até mesmo uma política mais ativa para permitir a exportação, o governo nunca se furtou a fazer, não diria as pressões, mas as informações necessárias para que nossos produtos possam alcançar mercados de terceiros países", afirmou.
O presidente também destacou a postura da diplomacia brasileira de manter-se numa posição de
não-intervenção nas questões políticas internacionais, como os problemas envolvendo os Estados Unidos, Israel e os países árabes, a não ser em condições especiais, como a solidariedade manifestada por ocasião do ataque terrorista aos Estados Unidos, quando o governo brasileiro exigiu, junto à Organização dos Estados Americanos (OEA), a aplicação do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca como forma de reprimir o terrorismo internacional.
Sobre Cuba, ele enfatizou que o Brasil "nunca aceitou" isolar o país, apesar da pressão
exercida pelas Estados Unidos, que impõem bloqueio econômico a Cuba desde o início da década de 60. "Essa política externa não é minha, é nossa. Nossa, que eu digo, é da história do Brasil, é uma tradição do Brasil, uma política de independência, de crença nos valores humanos, de defesa intransigente da democracia, de cooperação com os países, de não-intervenção e, sobretudo, de entendermos aquilo que o Barão do Rio Branco tão bem entendeu, de que
estamos situados aqui na América do Sul, temos de olhar nossos vizinhos com muito interesse, o Prata, ou seja, os países vizinhos do Cone Sul".
Quanto aos Estados Unidos, Fernando Henrique assinalou a importância de estreitar as
relações entre as duas nações, que devem ser positivas e implementadas com muito interesse. "Positivo não quer dizer baixar a cabeça. Positivo quer dizer ter capacidade de argumentação e mostrar onde está a justiça com firmeza, e quais são os nossos interesses. E isso é possível fazer e nós temos feito. E posso dizer ao país e à História que o fiz com
tranqüilidade, fiz com amizade em certos momentos dado ao meu relacionamento pessoal com um dos presidentes americanos(Bill Clinton), com correção, de parte a parte em todos os momentos, com qualquer dos presidentes mas dos vários países do mundo".