Fernanda Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Dependentes de crack que participam do Programa de Braços Abertos da prefeitura começaram hoje (16) o trabalho de limpeza de ruas, calçadas e praças na região central da cidade. Como parte das ações do programa, os usuários foram removidos ontem (15) da favela montada na região da Cracolândia e encaminhados para hotéis próximos. No dia seguinte à remoção, a Alameda Dino Bueno, onde estava instalada a favela, não tinha mais barracos nesta manhã. Porém, usuários ainda perambulavam pelas imediações e alguns barracos permaneciam montados em ruas próximas.
Os dependentes que aceitaram o programa se reuniram por volta das 9h de hoje (16) na tenda, na Rua Helvétia, para receber as orientações sobre o trabalho. Mais de 80 participantes formaram filas e começaram hoje o serviço de varrição das ruas.
Rogério Araújo Nascimento era um dos mais animados. Ele acredita que vai conseguir desempenhar bem o serviço. “Eu já fazia reciclagem, já trabalhava 24 horas na rua”. Esperançoso, o dependente disse que usou crack ontem pela última vez e que até já jogou fora o seu cachimbo, pois pretende largar a droga. “Foi bom [no hotel]. Dormi ontem a tarde inteira” disse.
Essa é a segunda vez que Rogério tenta abandonar o crack, antes não deu certo porque ele “desanimou”. Ele contou que as más influências de amizades o levaram à droga. Rogério disse que o cheiro do crack na região da cracolândia atrapalha a recuperação, mas ver que todos estão juntos tentando abandonar a droga o motiva. “E trabalhar vai distrair a mente”, acrescentou.
O prefeito Fernando Haddad esteve no local e conversou com alguns dependentes. Um deles, Márcio Alan, contou a rotina ao prefeito: “Nem hoje nem ontem eu usei droga. Com dinheiro no bolso, fui descansar, dormi melhor, tomei um banho, fiz a minha higiene. E vou ganhar o meu [dinheiro] honestamente.”
O serviço de limpeza tem duração de quatro horas diárias. Cada usuário vai receber bolsa de um salário mínimo e meio, o que inclui os gastos com alimentação, hospedagem, além do pagamento de R$ 15 por dia de trabalho. O pagamento, segundo Haddad, vai ser feito semanalmente. “O trabalho é para que eles tenham uma renda mínima para comprar um sapato, uma meia, uma pasta de dente, cortar o cabelo, uma coisa mínima a que todo ser humano tem direito”, disse ele.
Haddad declarou que as ações da prefeitura já mudaram a cracolândia. “Em dois dias, nós conseguimos mudar a cara da região e integrá-los [os dependentes] numa frente de trabalho, com tratamento médico.”
Edição: Talita Cavalcante
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