Cristina Indio do Brasil
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O colorido dos desenhos de 19 grafiteiros nas placas de metal que cercam o terreno onde será construído o campus do Instituto Nacional do Câncer (Inca), na Cruz Vermelha, no centro do Rio, provocou uma intervenção urbana que mudou a paisagem do bairro e tem agradado a quem passa pela esquina das ruas Henrique Valadares e Tenente Possolo.
“Sempre tinha um paciente ou um morador que passava e queria saber o que estava sendo feito. É uma intervenção também para quem mora no local. Teve uma troca muito legal com quem é paciente, quem trabalha no Inca e quem mora na região”, contou, em entrevista à Agência Brasil, o pintor e ilustrador Bruno Big, que foi responsável pela escolha dos artistas, por meio de contrato com o Inca.
Bruno informou que os desenhos vão permanecer na cerca durante quatro anos, período previsto para a construção do prédio. “A gente queria fazer a pintura para não deixar aquele tapume branco durante todo o tempo em que vai ser construído”, destacou.
Antes de começar os trabalhos, os artistas percorreram as instalações do hospital e tiveram contato com os pacientes. “A gente fez antes uma visita ao Inca para eles conhecerem e trabalharem a temática do que estava sendo visto. Um fez sobre o câncer de mama, outro sobre a doação de sangue. Muitos já tinham uma história da doença na família e toparam o trabalho por ser pró-Inca”, acrescentou, informando que cada um recebeu um cachê simbólico.
Os artistas foram escolhidos de acordo com as características dos trabalhos. “Como é um tapume sanfonado, não é o trabalho de todo mundo que fica bem ali. São pessoas que eu já conhecia e sabia que iriam cumprir o trabalho”, explicou.
Segundo Bruno, o trabalho começou a ser feito no dia 25 de novembro e chegou a ser interrompido por causa da chuva. O projeto faz parte da Primeira Semana de Arte e Cultura do Inca, que ocorre entre os dias 2 e 13 de dezembro. Ao mesmo tempo, outro grupo de artistas fez oficinas de aquarela e de ilustração em três unidades do instituto, com a participação de pacientes, parentes, voluntários e de funcionários.
“Como a gente estava dentro de um hospital, a recomendação que demos para os artistas é que não podiam usar materiais tóxicos. A ideia era fazer uma oficina em que todos pudessem experimentar, sem nenhum problema. Foi uma parceria que começou agora, mas que a gente espera que ainda ocorra no futuro”, disse.
O pintor disse que foi muito importante para ele participar do projeto, desenvolvido durante um ano, porque sempre teve vontade de fazer um trabalho voluntário. “Eu abri mão do meu cachê e fiz questão de poder chamar o maior número de artistas possíveis para fazer um trabalho de qualidade. Como artista, foi muito bom fazer algo sem visar ao lucro e deixar uma mensagem a quem passa todos os dias ali”, acrescentou.
Depois de concluído, o painel sofreu algumas pichações, mas segundo o ilustrador não há como fazer um trabalho para esconder, porque não há garantia de que não seja novamente pichado. Além disso, ele falou que a pichação foi uma manifestação. “Foi um ato de protesto e não do cara querendo botar o nome dele. A gente ficou muito triste porque foi muito rápido, mas não há o que fazer”, lamentou.
Edição: Graça Adjuto
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