Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A mistura entre empresas estatais e privadas no consórcio vencedor do leilão do Campo de Libra pode ser “muito positiva” para a primeira frente de exploração do pré-sal no modelo de partilha. A avaliação é do geólogo Carlos Jorge Abreu, professor da Universidade de Brasília (UnB) e aposentado pela Petrobras. “É uma formação interessante por misturar duas empresas estatais e duas privadas",disse Abreu.
"Com isso, esperamos que o consórcio tenha uma condição boa e aproveite o melhor de cada um dos lados”, disse Abreu à Agência Brasil, referindo-se ao grupo vencedor da 1ª Rodada de Licitação do Pré-Sal, formado pelas estatais Petrobras (brasileira) e CNPC e Cnooc (chinesas) e pelas empresas privadas Shell (anglo-holandesa) e Total (francesa).
Dos 70% arrematados pelo consórcio, 20% são da Shell e 20% da Total. A CNPC e a Cnooc têm, cada uma, 10%, assim como a Petrobras, que já tinha garantidos 30%. O leilão garantiu à União 41,65%% do lucro do óleo retirado do campo. O consórcio – único a participar da disputa – pagará ao governo brasileiro bônus de R$ 15 bilhões, além de garantir investimento mínimo de R$ 610 milhões.
Segundo o geólogo do Instituto de Geociências da UnB, “é bom que haja, no consórcio, parceiros diferentes, inclusive em termos ideológicos”. A Shell e a Total, avalia ele, "querem lucro de forma independente da nacionalidade". E as chinesas, acrescenta, "mais do que o dinheiro, querem o petróleo para assegurar o mercado interno e para que seu país continue com o crescimento econômico dos últimos anos”, disse o professor.
“Já a Petrobras – que não está em uma fase de fazer grandes investimentos, após a queda das ações vista nos últimos anos e devido aos déficits anuais em função de o governo a usar para segurar preços e inflação – tem a expectativa de, com o resultado do leilão, ter suas ações valorizadas [no mercado financeiro] para compensar as baixas recentes. Além disso, Libra será interessante para a estatal brasileira refazer seu caixa a médio e longo prazo”, acrescentou.
O professor ressalta que a Petrobras não pode deixar que os grandes números do pré-sal acabem por desestimular outras frentes de ação. “Ela precisa investir em campos que têm registrado diminuição na produção”, disse o geólogo.
Estima-se que o Campo de Libra, localizado na Bacia de Santos, tenha reservas entre 8 bilhões e 12 bilhões de barris de petróleo. Caso o potencial se confirme, este será o maior campo de petróleo do país. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) acredita que, em seu pico de produção, sejam extraídos diariamente 1,4 milhão de barris de óleo – cerca de dois terços do total da produção atual de todos os campos do país (2,1 milhões de barris por dia).
“Ainda serão necessários muitos estudos para saber o real potencial. É preciso furar mesmo. Mas, antes, tem de levantar dado porque não há garantia. O que há é apenas ideia do potencial”, disse Abreu. “Ninguém tem mais condições de operar no pré-sal do que a própria Petrobras. Ela é operadora única neste modelo [partilha], mas mesmo se fosse sistema de concessão, todas as empresas iam querer ela como operadora”, completou o professor da UnB.
Edição: Nádia Franco
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