População de Vargem Grande, no Maranhão, reclama da demora do trabalho dos profissionais do Mais Médicos

24/09/2013 - 23h36

Mariana Tokarnia
Repórter da Agência Brasil

Vargem Grande (MA) - Raimundo da Conceição tem 69 anos. Quando criança a paralisia infantil (poliomielite) lhe tirou o movimento de uma das pernas. Há pouco mais de um ano ele perdeu a visão de um dos olhos e teve que procurar um médico. Raimundo passou um ano em São Luís, capital maranhense, para se tratar. Agora, "mais fraco", ainda precisa de atendimento, mas diz que não tem condições de deixar o povoado de Pedra Grande do Adelino, em Vargem Grande, no interior do Maranhão. Ele é um dos pacientes que esperam o início do trabalho dos médicos cubanos enviados à cidade pelo Programa Mais Médicos.

Os dois profissionais designados para a cidade chegaram nesse fim de semana, mas ainda dependem do registro provisório, concedido pelo Conselho Regional de Medicina, para começar a atuar. O povoado de Conceição vai receber um médico, Jose Santos. A demora é também incômodo para o profissional. "Amanhã (25) completa um mês que estamos no país, queremos começar a trabalhar", disse.

Santos conheceu hoje (24) o povoado. "É uma grande responsabilidade. Vou atuar com aqueles que precisam. A população aqui precisa de muita ação e ação de saúde. Tem crianças, idosos, com doenças que podem ser resolvidas", declarou o médico. Ele vai prestar atendimento a 40 famílias do povoado. O trabalho era para começar esta semana, mas foi adiada. A expectativa é que comecem a atender na próxima semana.

"A gente estava esperando ele. Disseram que vinha logo e esse logo nunca tinha chegado. Já veio gente dos povoados vizinhos perguntando se tinha consulta. Pra ir no médico, tem que ir à cidade. Do jeito que vai, volta, não consegue marcar consulta. É um sofrimento de pai d'égua", disse o vizinho de Conceição, João Batista.

No local, a maioria das doenças está ligada à ausência de saneamento básico e à falta de tratamento da água. Foram abertos três poços, em apenas um, "a água presta", declarou João Batista. Verminoses e diarreia são doenças comuns. A atenção básica, somada às visitas à comunidade podem ajudar a melhorar a qualidade de vida dos moradores, acredita o médico cubano.

O povoado reflete a situação de quase metade dos moradores de Vargem Grande. Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade tem 52,9 mil habitantes, 46% vivem na zona rural. No campo, a produção é para a subsistência. A renda mensal per capita dos moradores da cidade é R$ 165,37. O município está entre os 300 com o pior Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), ocupa a 5.293ª posição dos mais de 5.560 municípios brasileiros.

Em relação à saúde, a região tem um hospital e novo postos de Saúde, dos quais quatro são na área rural. Cada um deles tem um médico especializado em atenção básica. Os cubanos vão se somar a eles. Além deles, apenas um dos médicos da atenção primária mora na cidade. Os demais são de municípios vizinhos, que atendem duas ou três vezes na semana. A prefeitura calcula que seriam necessário 21 médicos para atender à população adequadamente.

"Temos muita dificuldade em fixar os profissionais. Eles vêm para cá buscando um salário maior do que o que podemos oferecer", disse o secretário de Saúde de Vargem Grande, Challes Eduardo Marinho. Pela Constituição, os municípios devem aplicar um mínimo de 15% da receita em saúde. Segundo o secretário, no mês passado, foram aplicados 40%.

O município pediu seis médicos na primeira etapa do Mais Médicos, nenhum profissional optou por trabalhar no município. Com o acordo com os cubanos, a cidade recebeu dois médicos. Além de Santos, a médica cubana Rebeca Rodriguez vai atuar em Vargem Grande, na zona urbana, em unidade especializada em atendimento infantil. Ela está ansiosa: "Estamos esperando o registro para trabalhar, é a nossa função", disse.

O pediatra José Curtius, que trabalha no município, declarou que a atuação da profissional cubana vai facilitar o trabalho dele. "A movimentação é muito grande, a demanda muito grande. Além disso, não temos atendimento primário. Na hora que melhorar as condições do atendimento básico, vai melhorar também o especializado. Recebemos várias demandas que poderiam ser resolvidas na base", ressaltou.

 

Edição: Aécio Amado

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