Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Um índio tupinambá foi encontrado morto na madrugada desta terça-feira (3) em uma comunidade entre as cidades de Ilhéus e Una, no sul da Bahia. A morte foi confirmada à Agência Brasil por uma das lideranças da aldeia onde o índio vivia e pela Fundação Nacional do Índio (Funai), mas ambos demonstraram ainda não ter certeza sobre o que de fato ocorreu.
Em nota, a Funai informou que o índio morreu em “circunstâncias ainda não esclarecidas” e que está aguardando o resultado da perícia para poder se manifestar sobre o assunto. Uma equipe de técnicos da fundação indigenista vinculada ao Ministério da Justiça foi enviada hoje (4) para acompanhar e dar assistência aos indígenas. A Polícia Federal (PF) está apurando o caso, mas a reportagem não conseguiu falar com os responsáveis pela delegacia federal em Ilhéus.
Pascoal Pedro de Souza, uma das lideranças da Aldeia Indígena Serra das Trempe, diz que, segundo testemunhas, Dilson “Cipó”, como o índio morto era conhecido, é mais uma das vítimas do conflito fundiário que tem gerado confrontos entre índios e produtores rurais.
“Ele morreu ontem de madrugada. O Dilson estava com o Régis [outro índio] em uma fazenda ocupada no domingo [4] quando, segundo as testemunhas, começaram os tiros. O Régis foi atingido de raspão no braço e conseguiu correr. O Dilson não”, disse Souza, a partir do relato do próprio Régis e de outros índios que se encontravam na aldeia no momento da ocorrência. “O Régis diz que, no escuro, não conseguiu ver de onde vinham os tiros. Já pedimos providências à Funai e acionamos a PF”, disse Souza, acrescentando que a vítima tinha mulher e duas filhas e que, vindo de Porto Seguro, onde também tinha parentes, havia se reunido ao movimento indígena, no sul da Bahia, há cerca de quatro meses.
Localizada a cerca de 462 quilômetros de Salvador (BA), Ilhéus fica na região conhecida como Serra do Padeiro, onde, nos últimos meses, índios ocuparam várias propriedades rurais. O foco maior do conflito está na cidade de Buerarema, mas há também fazendas ocupadas em Una e em São José da Vitória, além de Ilhéus. Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), os índios tomaram posse de 80% da área que eles reivindicam como território tradicional.
As ocupações, que os índios classificam como “retomada do território sagrado”, foi a forma encontrada pelos tupinambás para exigir do governo federal a conclusão do processo de demarcação da Terra Indígena Tupinambá de Olivença. A área de 47.376 hectares (um hectare corresponde a 10 mil metros quadrados, o equivalente a um campo de futebol oficial) foi delimitada pela Funai em 2009. Desde então, os índios cobram que o Ministério da Justiça expeça a portaria declaratória, reconhecendo-a como território tradicional indígena. Feito isso, ainda será preciso aguardar que a Presidência da República homologue a área.
Na mesma região, segundo a PF, um trabalhador rural foi atingido por um tiro na coluna durante uma ocupação indígena a uma fazenda no sul da Bahia, nessa segunda-feira (2). No Hospital de Base de Itabuna, para onde ele foi levado, foi diagnosticado que ele teve uma vértebra seccionada, com lesão na coluna, e corre o risco de ficar paraplégico.
No último sábado (29), a Justiça Federal suspendeu nove liminares favoráveis a fazendeiros da região, autorizando os índios que haviam ocupado as propriedades a permanecerem nas áreas. A decisão acirrou ainda mais o clima de tensão na região.
Edição: Fábio Massalli
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