Criado durante a ditadura militar, Salão de Humor de Piracicaba completa 40 anos

25/08/2013 - 9h43

Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Criado durante a ditadura militar como forma de demonstrar a insatisfação de vários artistas com o regime, o Salão Internacional de Humor de Piracicaba completa 40 anos. O salão surgiu em 1974, por iniciativa de um grupo de piracicabanos apoiado por grandes nomes do humor nacional tais como Millôr Fernandes, Jaguar, Henfil e Ziraldo, entre outros, e continua como um espaço de reflexão, de revelação de talentos e como uma grande vitrine para os profissionais do cartum, das charges e do humor brasileiro e mundial.

“O salão é um evento cultural muito conhecido no Brasil e no exterior. Ele tem uma história muito rica e importante, relacionado, inclusive, à redemocratização do país. Quando o salão surgiu, vivíamos ainda sob a ditadura militar. Ele foi então um espaço em que jornalistas, humoristas e intelectuais brasileiros ocuparam para lutar contra a falta de liberdade de expressão”, disse o cartunista Eduardo Grosso, diretor do Centro Nacional de Humor Gráfico (CEDHU), em Piracicaba, responsável pelo salão.

Neste ano, 966 artistas, de 64 países, enviaram 4.180 trabalhos para a exposição competitiva, número recorde na história do salão. Deste total, 442 obras foram selecionadas, sendo 142 cartuns, 97 caricaturas, 74 charges, 73 tiras ou histórias em quadrinhos e 53 com o tema futebol, um dos assuntos escolhidos para ilustrar a mostra deste ano. “Todos os anos o salão trabalha com um tema, embora haja a possibilidade de mandar trabalhos com temática livre. Este ano, por causa da Copa do Mundo, decidimos adotar o tema futebol”, explicou o diretor.

Entre os trabalhos selecionados estão caricaturas da presidenta Dilma Rousseff, do presidente dos Estados Unidos Barack Obama, do ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, do papa Francisco e dos jogadores Pelé e Neymar. As charges, por sua vez, exploram temas como os protestos no país, a crise no jornalismo e a denúncia de espionagem nos Estados Unidos.

“Todos os anos, o salão é um reflexo do que está acontecendo tanto localmente quanto em nível mundial. No Brasil, o grande destaque deste ano foram as manifestações e as dúvidas do governo com relação a elas. Apareceu muito a figura da presidenta Dilma com relação a isso [manifestações]. Outro assunto que apareceu muito este ano foi a espionagem, como a da figura do Obama com uma grande orelha, escutando o que os outros países estão fazendo ou tramando, e ainda as relações do homem com as novas tecnologias”, disse Grosso.

A abertura do Salão Internacional de Humor aconteceu na noite de ontem (24). As visitas, gratuitas, poderão ser feitas até o dia 20 de outubro, no Engenho Central. Além do Engenho Central, haverá exposições de obras do salão espalhadas por outros pontos da cidade, como a Câmara dos Vereadores, a Rodoviária Intermunicipal, o Shopping Piracicaba e a Biblioteca Municipal Ricardo Ferraz de Arruda Pinto, entre outros. Obras que fizeram parte da história do salão também poderão ser vistas na capital paulista nas estações Corinthians-Itaquera (Linha 3 – Vermelha) e Luz (Linha 1 – Azul) do Metrô,  além da Assembleia Legislativa.

Para comemorar os 40 anos do evento, o salão também vai abrigar o Festival Paulista de Circo. Como forma de incentivar os novos talentos, o salão promove a 11ª edição do Salãozinho de Humor, com a participação de crianças entre 7 anos e 14 anos, matriculadas nas escolas públicas ou particulares de todo o país. A abertura do salãozinho está marcada para a manhã de hoje (25).

Clique aqui para mais informações sobre o Salão Internacional de Humor de Piracicaba.

Edição: Andréa Quintiere

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