Luciano Nascimento
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Manifestantes bloquearam hoje (21) pela manhã a BR-222, no município de Buriticupu, a 400 quilômetros de São Luís (MA). Eles atearam fogo em pneus e fecharam a rodovia com toras de madeira, em protesto contra a presença do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) e do Exército, que fazem na região uma grande operação de combate ao desmatamento ilegal. Os manifestantes também alegam que homens do Exército estariam abusando sexualmente das adolescentes da cidade. Para o Exército, as acusações são infundadas e buscam desqualificar a operação. Até o final da tarde a rodovia continuava interditada.
"Nunca recebi informação a este respeito. Já conversei com o juiz e o promotor e eles me negaram que tenha aparecido qualquer denúncia", disse à Agência Brasil o comandante das tropas do Exército que participam da operação, coronel Álvaro Rocha, que avalia que a manifestação foi organizada por madeireiros insatisfeitos com a operação.
O Conselho Tutelar de Buriticupu também informou que não tem registrada nenhuma denúncia de violência sexual envolvendo participantes da operação. "O Conselho Tutelar não tem registro de nenhuma prática desse tipo, embora tenham chegado até o conselho rumores de que soldados estariam circulando com adolescentes durante os dias de folga", disse o conselheiro Alaíde Abreu da Silva.
De acordo com o conselheiro, os rumores têm preocupado os integrantes do órgão. "Vamos conversar com o comandante da operação para levar a nossa preocupação e apurar os rumores", observou Silva. Ele disse que a cidade tem um histórico de violência e exploração sexual de crianças e adolescentes envolvendo madeireiros, fazendeiros, empreiteiros e altas autoridades do município. Segundo Silva, a prefeitura tem sido omissa com a situação. "Os integrantes do Conselho dos Direitos da Criança, eleitos há mais de dois meses, ainda não foram empossados".
A assessoria de comunicação do Ibama informou à Agência Brasil que a operação mexeu com o interesses de madeireiros da região, alvos de multas pela utilização de madeira ilegal procedente da reserva ambiental. A operação aplicou R$ 250 mil em multas em Buriticupu. Na semana passada o Ibama iniciou a retirada da madeira apreendida em serrarias no município. Mais de 600 metros cúbicos de toras apreendidas foram transportados com escolta do Exército para depósitos em Buriticupu e no município vizinho de Bom Jesus das Selvas. Dezenove empresas foram fechadas na operação. Três serrarias em Buriticupu e duas na região de Novo Bacabal tiveram maquinários desmontados.
A operação, batizada de Hileia Pátria, teve início há mais de 70 dias e se concentra no combate a crimes ambientais, na Reserva Biológica do Gurupi e municípios no entorno da área de preservação, onde ocorrem muitos casos de desmatamentos ilegais. O Exército auxilia o Ibama em ações de logística, comunicação, inteligência e segurança das instituições e das equipes. Desde o final de julho, os 700 homens do exército, 24 do Ibama, dez do Instituto Chico Mendes, além de representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai), estão presentes em Buriticupu, conhecida como um local de grande fluxo de madeireiras ilegais.
A operação entra agora na sua terceira fase. A primeira foi feita no fim de julho na região dos municípios de Zé Doca, centro do Guilherme e Santa Luiza do Paruá e teve como alvo o combate aos crimes ambientais nas terras indígenas Alto Turiaçu, Awa Guajá e Caru, resultando no valor superior a R$ 1,5 milhão aplicados em autos de infração. O alvo da segunda etapa foi a extração e comercialização ilegal de madeira nas áreas de reserva do Gurupi.
Edição: Fábio Massalli
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