Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O aperto monetário promovido pelo Banco Central (BC) resultou em juros mais altos para os tomadores de crédito. Os bancos, no entanto, até agora não tiraram proveito da alta das taxas para ampliar os lucros. Segundo os dados mais recentes divulgados pelo BC, o spread bancário (diferença entre as taxas que as instituições financeiras pagam para captar recursos e os juros cobrados do cliente final) caiu nos últimos meses, apesar de a taxa Selic (juros básicos da economia) ter sido reajustada três vezes seguidas.
Em junho, segundo a autoridade monetária, o spread atingiu 10,9% ao ano, acumulando queda de 0,6 ponto percentual no primeiro semestre e de 1,9 ponto percentual nos últimos 12 meses. Nos últimos 18 meses, o indicador registrou alta em apenas dois meses: em julho do ano passado e em janeiro deste ano.
Se for considerado apenas o crédito para as pessoas físicas, a diferença entre os juros de captação e aplicação correspondeu a 16,3% ao ano, também com queda de 1,4 ponto percentual em 2013. Em relação aos empréstimos para as empresas, o spread recuou para 6,7% ao ano, com redução acumulada de 0,3 ponto percentual no ano.
A queda no spread ocorre porque os bancos ainda não repassaram totalmente aos clientes o aumento nas taxas usadas na captação, quando as instituições financeiras pegam dinheiro emprestado dos correntistas e oferecem juros em aplicações como poupança e CDB, e nos juros cobrados na concessão de crédito. Diretamente influenciada pela taxa Selic, a taxa média de captação subiu de 6,8% ao ano em maio para 7,6% em junho, alta de 0,8 ponto percentual de um mês para outro.
Os juros médios pagos pelos tomadores de empréstimos e financiamento também subiram, mas em ritmo menor. A taxa média de aplicação, como o BC chama os juros dos clientes finais, aumentou de 18,1% ao ano em maio para 18,5% em junho, crescimento de 0,4 ponto percentual. A combinação dos dois fatores resultou na queda do spread bancário em pleno ciclo de alta da taxa Selic.
Para a professora do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp), Maryse Farhi, a diminuição do spread pode ser explicada pelo excesso de liquidez – dinheiro em circulação – do setor financeiro e pela perspectiva de que a inadimplência permanecerá sob controle nos próximos meses. “Os bancos, em geral, tendem a aumentar o spread quando têm receio de instabilidade. Esse não é o quadro atual”, explica.
Especialista em mercados financeiros, Maryse diz que o baixo desemprego impede que os bancos aumentem o spread porque diminui o risco de calote dos tomadores de crédito. “Haveria um grande problema para os bancos se o desemprego estivesse subindo, mas isso não está ocorrendo. Quem pega dinheiro emprestado, na maioria dos casos, tem condições de devolvê-lo, sem pressionar a inadimplência”, comenta.
Todo o conteúdo deste site está publicado sob a Licença Creative Commons Atribuição 3.0 Brasil. Para reproduzir a matéria, é necessário apenas dar crédito à Agência Brasil