Gilberto Costa*
Enviado especial da Agência Brasil/EBC
Leipzig (Alemanha) – Os competidores brasileiros que participam da olimpíada da educação profissional, a WorldSkills Competition 2013, estão impressionados com o interesse da população alemã, em especial dos adolescentes e crianças, pelas provas nas 46 ocupações em disputa na cidade de Leipzig (a 150 quilômetros de Berlim).
“Eles estão incentivando desde cedo as crianças a entrarem no mundo do trabalho. Isso é muito importante”, avalia Marcos Assis de Oliveira, competidor do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de Belo Horizonte nas provas de construção com gesso.
“A WorldSkills é uma atração, me parece que eles têm interesse pelas ocupações”, disse o gaúcho Ricardo Vivian, aluno do Senai de design gráfico se referindo às crianças que espiam as provas. “O princípio de tudo aqui é a educação profissional. Este evento é para levar o profissional ao mercado”, assinala Bruno Assis, aluno do Senai de Bauru (SP), que ontem (5) participou da prova de sistema de freio de automóveis.
As competições encerram hoje e ainda não foi divulgado o número de jovens que visitaram a WorldSkills, mas o diretor-geral do Senai, Rafael Lucchesi, tem uma explicação sociológica para o interesse. “Essa sociedade [alemã] participou da revolução iluminista [século 18]”. Segundo ele, por razões históricas a educação profissional é um “modelo forte e culturalmente arraigado” e mobiliza famílias, escolas, empresas e o Estado em torno da “ética do trabalho”.
A Alemanha tem um dos melhores índices de desenvolvimento humano do mundo (nono lugar); é a sexta maior economia (Produto Interno Bruto de US$ 3,4 trilhões); e é uma das principais economias exportadoras de produtos de grande valor agregado, como equipamentos de precisão para diagnósticos químicos e medicamentos.
“Eles têm um tipo de educação bastante diferente da nossa e dão muito valor à educação técnica”, salienta Carlos Eduardo Abijaodi, diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Segundo ele, a formação profissional “dá condições à Alemanha de ter qualidade na fabricação dos seus produtos e ter alta competitividade econômica”.
Abijaodi chama atenção para o modelo de ensino técnico-profissional que existe na Alemanha que combina atividade laboral e aprendizagem (sistema dual). Mais da metade dos jovens do país (18 a 25 anos) se dedicam a uma carreira que tem formação feita diretamente nas empresas (dois terços do tempo) e nas escolas de aprendizagem (um terço do período).
O ingresso no sistema de formação se dá pelas empresas que recrutam os melhores alunos por meio de seleção própria. Após a aceitação nas empresas (80% delas de pequeno porte), o aluno é encaminhado para matricular-se na escola de aprendizagem correspondente à atividade laboral. Além de boa qualificação, o modelo gera relativa estabilidade de emprego. A Alemanha é um dos países da Europa com menor taxa de desemprego, inclusive entre jovens.
O diretor-geral do Senai, Rafael Lucchesi, explica que não é possível fazer uma transposição imediata do modelo alemão para o Brasil por causa de restrições da legislação trabalhista e por causa dos currículos educacionais. “A gente tem que ter um sistema educacional que forme para a cidadania e para o trabalho”. Em sua opinião, “há baixa aderência” entre o que se aprende na escola, os interesses do jovem e o que será demandado quando começarem a trabalhar.
Além disso, Lucchesi assinala que, diferente da Alemanha, no Brasil o trabalho manual é pouco valorizado socialmente e sofre preconceito. Para ele, o desenvolvimento sustentado depende do sistema educacional que precisa “ter uma agenda de educação mais perto da juventude”.
*O repórter viajou a convite da Confederação Nacional da Indústria (CNI)
Edição: Carolina Pimentel
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