Gilberto Costa
Correspondente da Agência Brasil/EBC
Lisboa – A capital de Portugal amanheceu com congestionamentos nesta quinta-feira (30). Hoje é dia normal de trabalho no país e cerca de 500 mil pessoas – o equivalente a 17% da população residente na região metropolitana de Lisboa, tiveram que usar o carro ou pegar ônibus por causa da greve de 24 horas dos trabalhadores do Metropolitano de Lisboa.
A paralisação termina amanhã (31), às 6h30 (horário local). A Justiça portuguesa (Tribunal Arbitral) não fixou obrigatoriedade de serviços mínimos durante a greve, que é a quarta da categoria este ano. As paralisações anteriores, no entanto, foram só no começo da manhã e tiveram duração de quatro horas.
De acordo com a Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans), o ganho real dos trabalhadores caiu 27% nos últimos dois anos e a companhia não cumpre o acordo de reajuste e não apresenta proposta formal aos trabalhadores.
Portugal se aproxima de ter 1 milhão de desempregados (20% da população economicamente ativa) e o governo admite vender empresas estatais para diminuir a dívida pública – que já soma 125% do Produto Interno Bruto. Por causa disso, há temor entre os metroviários de que a companhia possa ser privatizada e que ocorram demissões de trabalhadores.
Além disso, os empregados denunciam o alto custo do pagamento de empréstimos feitos pela companhia recentemente. Segundo a Fectrans, até 2012 a empresa já havia “perdido” 1,24 bilhão de euros com o pagamento da dívida, cobrada em percentuais pré-fixados acima dos juros de mercado (contratos swaps). “Os valores das perdas com as swaps seriam suficientes para pagar os salários dos trabalhadores do Metropolitano de Lisboa durante 17 anos”, diz nota da federação que ainda calcula que o montante equivale a 25 anos de passe livre (sem pagamento) a todos os usuários do serviço de transporte.
O Conselho de Administração da Metropolitano de Lisboa divulgou nota lamentando “profundamente todas as perturbações causadas pelos sindicatos aos clientes e à cidade”, mas não anunciou nenhum possibilidade de reajuste. A empresa apenas assinala que “prosseguirá com determinação o seu propósito de assegurar a sustentabilidade e o futuro do Metropolitano de Lisboa para servir, cada vez melhor, as necessidades da mobilidade de Lisboa”.
A greve dos metroviários lisboetas conseguiu unir as duas centrais sindicais do país - a Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP), ligada ao Partido Comunista Português; e a União Geral dos Trabalhadores (UGT), ligada ao Partido Social Democrata (governo) e ao Partido Socialista (oposição). A duas centrais participaram de manifestação no início da paralisação.
A mobilização dos metroviários ocorre em momento de grande contestação dos sindicatos quanto à política econômica e insatisfação da população. Hoje, o Instituto Nacional de Estatísticas (INE), equivalente ao IBGE, divulgou que caíram os índices de confiança dos consumidores portugueses (futuro das famílias, situação econômica do país e capacidade de poupança).
Edição: Denise Griesinger
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