Gilberto Costa
Correspondente da Agência Brasil/EBC
Lisboa – O governo federal resolveu remanejar os estudantes selecionados pelo Programa Ciência sem Fronteiras que se candidataram a universidades portuguesas para outros países. Esses alunos estão sendo reencaminhados para os Estados Unidos, o Canada, a Austrália, o Reino Unido, a Irlanda, a Alemanha, a França e a Itália.
A razão anunciada pelo ministro da Educação Aloizio Mercadante é a necessidade de “estimular os jovens a falar mais uma língua, a conhecer e ter competência específica em outras culturas”.
Para o governo, a facilidade do mesmo idioma fez com que Portugal virasse o principal destino dos estudantes de graduação do Ciência sem Fronteiras no ano passado.
No entanto, há exemplos de diversos cursos em que é necessária a leitura e a fluência verbal em inglês, tanto na área de ciências exatas quanto na de humanas. “É preciso desmistificar que os alunos vão chegar aqui e ter todas as aulas em português. Boa parte da bibliografia é em inglês. Os livros na biblioteca, na maioria, estão em inglês. Na sala de aula, quando há um aluno [estrangeiro] que não fala português, a aula é ministrada em inglês”, explicou Francisco Alves Pinheiro, professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco e doutorando na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Segundo Sebastião Feyo de Azevedo, diretor da faculdade, há estudantes de 71 países na instituição, atraídos pela qualidade dos cursos. “A nossa política é ter cooperação internacional, particularmente com a Europa e com os países da lusofonia”, disse Azevedo à Agência Brasil dias antes da vinda do ministro Aloizio Mercadante a Portugal, em março. Enquanto o diretor dava entrevista, no auditório ao lado um estudante ensaiava a defesa de tese em inglês.
Além da Universidade do Porto, cuja Faculdade de Engenharia está entre as sete melhores no ranking oficial da União Europeia, há outros exemplos de internacionalização, como o Instituto Superior Técnico de Lisboa, com mil alunos estrangeiros, a Faculdade de Arquitetura e o Instituto Superior de Economia e Gestão (Iseg) da Universidade Técnica de Lisboa e o Instituto Universitário de Lisboa (Iscte).
Existem, inclusive, faculdades com o próprio nome em inglês, como a Aeronautical Sciences Academy da Universidade do Minho, a Global School of Law da Universidade Católica em Lisboa e a Nova School of Business and Economics (NBSE) da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, onde há 17 anos o ensino é em inglês.
Ter aulas em inglês ajudou a projeção internacional da NBSE, que está na lista das 30 melhores escolas de negócio da Europa, segundo a revista Financial Times. “Esta é a melhor maneira de trazer para o universo da língua portuguesa pessoas que, de outra maneira, nunca viriam. A base de escolha fica muito maior”, explica João Amaro de Matos, coordenador da School of Business and Economics, referindo-se à contratação de professores e à admissão de alunos estrangeiros. Um terço dos docentes e estudantes da NBSE é formado por estrangeiros.
A internacionalização das universidades de Portugal incrementa a exportação de serviços do país, fundamental neste período de crise econômica.“Em um país pequenino como Portugal, o número de empresas que podem empregar os alunos com alta capacidade é limitado. Cumprimos melhor o nosso papel na sociedade quanto mais alunos, quanto mais pessoas com competências conseguirmos colocar no mercado e quanto para mais empresas formos úteis”, disse Matos, defendendo a “abertura de espírito” quanto ao ensino em língua estrangeira.
Em Portugal, os alunos estudam dois idiomas estrangeiros desde o ensino fundamental e no ensino médio é facultado um terceiro idioma. Para Matos, a internacionalização dos cursos acadêmicos é vocação natural do país. “Não estamos no centro da Europa, mas no centro do mundo”.
Edição: Andréa Quintiere // Matéria alterada para esclarecer informações às 18h14. O título também foi alterado.
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