Índios da Aldeia Maracanã pedem reintegração do prédio do antigo Museu do Índio

19/04/2013 - 20h15

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Em audiência pública que ocorre esta noite (19) na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no centro da capital fluminense, líderes indígenas, com o apoio de acadêmicos, parlamentares e ativistas políticos, dão continuidade à luta pela preservação da Aldeia Maracanã, localizada no prédio do antigo Museu do Índio, ao lado do Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã.

“O objetivo [da audiência] é defender a Aldeia Maracanã”, disse Urutau Tenetehara, também conhecido como José Guajarara, uma das principais lideranças da aldeia. A posição é também defendida por Ash Ashaninka, especialista em medicina da floresta e líder do movimento em defesa da preservação do local.

“O foco principal é a reintegração da Aldeia Maracanã para a questão da memória da identidade indígena e a questão da violação dos direitos humanos indígenas pelo estado, com crime de racismo”, disse Ashaninka à Agência Brasil.

Segundo ele, os índios repudiam a decisão do governo fluminense de manter o prédio do antigo Museu do Índio com a finalidade de abrigar o Museu Olímpico. “Ali sempre foi direcionado à memória indígena e à saúde indígena também, com a promoção de pesquisas nativas indígenas, na época do antropólogo e político Darcy Ribeiro”, disse. No local, funcionava também um laboratório agropecuário do Ministério da Agricultura, o Lanagro Rio. “Acho que o governador Sérgio Cabral Filho não entende de cultura. Se entendesse, respeitaria os [seres] originários desta terra”, ressaltou.

No dia 12 de janeiro deste ano, após uma tentativa frustrada de desocupação do prédio do atnigo Museu do Índio, artistas, acadêmicos e políticos declararam apoio à causa da Aldeia Maracanã. Graças a isso, os indígenas conseguiram impedir a demolição do antigo museu para a construção de um estacionamento no local, como parte das obras de reforma do Maracanã para a Copa do Mundo de Futebol de 2014.

No dia 21 de março, entretanto, em razão de um processo de reintegração de posse, os índios acabaram sendo retirados do local pelas forças policiais. A operação resultou em conflito com ativistas de defesa da causa dos índios. Um grupo indígena aceitou a proposta feita pelo governo do estado do Rio de Janeiro e ocupou um terreno em Jacarepaguá, na zona oeste da capital. Outro grupo, do qual Ashaninka faz parte, permanece disposto a retomar o prédio do antigo museu.

O seminário vai iniciar campanha para que o prédio permaneça sendo um local de destinação cultural indígena. Para isso, os índios pretendem buscar apoio do Poder Judiciário, para que ele atue junto com o Ministério Público Federal na questão. “A gente acredita que, se este país tiver Justiça e ela for realmente baseada na Constituição Federal, o prédio continuará, com manutenção dos próprios indígenas que ali resistiram até o final”, disse Ash Ashaninka.

O professor de antropologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Mércio Gomes, ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), no período 2003/2007, lamentou, em entrevista à Agência Brasil, que o governador do Rio de Janeiro “não tenha tido um olhar com horizonte de futuro sobre a questão” e não tenha aceitado a reivindicação de manter o prédio como um Centro Cultural Indígena.

“Foi uma visão míope e preconceituosa dele [Sérgio Cabral]. Eu não acredito que ele vai utilizar aquele prédio para fazer um museu das Olimpíadas”. Na avaliação do acadêmico, o projeto governamental de construção no local do Museu Olímpico foi apenas “uma justificativa para forçar a retirada dos índios”.

Ao final da audiência pública, na ABI, será elaborada uma carta a ser encaminhada a todas as instâncias governamentais, englobando a prefeitura do Rio, o governo fluminense e a ministra da Cultura, Marta Suplicy.

 

Edição: Aécio Amado

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