Movimento quer transformar Curupaiti em modelo de inclusão de pessoas com hanseníase

31/03/2013 - 18h07

Akemi Nitahara
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – Um parque ecológico com um centro de atenção ao idoso, um teatro para a comunidade, preservação de ruínas, um hospital de referência em dermatologia e um museu sobre hanseníase. Esse é o projeto do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) para a antiga Colônia Curupaiti, em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio, espaço criado em 1929 que recebia e isolava os doentes da sociedade.

Segundo o coordenador nacional do Morhan, Artur Custódio, já foi dada a cessão do uso das cerca de 300 casas para os antigos pacientes e suas famílias. “Hoje, você trata hanseníase no posto de saúde, mas naquela época as pessoas eram isoladas. Então, Curupaiti tem pessoas remanescentes, elas não têm mais a doença, mas muitos têm sequelas da doença, e aqui se transformou em uma grande comunidade”.

Ele explica que a Organização das Nações Unidas (ONU) tem acompanhado, por meio da comissão de direitos humanos, o que tem sido feito nas antigas colônias no mundo todo. Só no Brasil, existem 33 locais desse tipo, todos praticamente abandonados, segundo Custódio. “Toda vez que tem um movimento a gente sempre observa. A vinda dos índios para Curupaiti traz uma discussão interessante, podemos discutir a memória deles e a dos atingidos por hanseníase também”.

Curupaiti irá acolher parte dos índios que deixaram aldeia, próxima ao Maracanã, que será demolida por causa da reforma do estádio.

Para Custódio, o modelo adotado na antiga colônia é um exemplo, o que não está ocorrendo em outros lugares. “Já o que está acontecendo em São Paulo, em Pernambuco, que é tentar transformar essas antigas unidades em centros de reclusão para usuários de crack, isso é extremamente negativo. Em algumas colônias construíram presídios dentro, outras, como Salvador, derrubaram tudo para construir um hospital, o que também não é a melhor solução”, acrescentando que as Nações Unidas alertam para os locais sejam tratados de forma a nãor eforçar o estigma em relação às pessoas com a doença.

"O Brasil não tem um museu da hanseníase e a gente tem toda uma questão que foi construída em cima disso e que precisava ser preservada, como moedas antigas próprias, da época do isolamento”. Segundo o coordenador do Morhan, vários países têm museus temáticos, como a África do Sul, o Japão e a Noruega.

Custódio aponta como avanço o pagamento de indenização aos pacientes, prevista na Lei 11.520, a cessão das casas para os moradores, além de verba federal para melhorar o hospital de Curupaiti.

Porém, outra frente de luta é a indenização para os filhos dos paciente, que foram separados dos pais. “Houve um crime de Estado, eles foram separados. A cura da hanseníase surgir na década de 40, então não tinha mais porque separar. Tinha uma recomendação mundial em 53 [1953] de acabar com o isolamento e a separação de filhos. O Brasil só foi cumprir isso oficialmente em 76 [1976], e na prática até 86 [1986]. Em outros países, como o Japão, o isolamento ocorreu até 1990”, lembra.

Uma das pessoas que pedem a reparação é Elizabeth de Jesus Eggnstein, que mora na Colônia Curupaiti. Ela conta que nasceu na colônia e foi levada para um orfanato com duas horas de vida. “A gente sofreu muito. Era chamado de leprosinho, apanhava no orfanato e não podia se defender. Ficava presa por ordem do governo da época. Muitas crianças morreram lá no orfanato, muitos filhos não conheceram os pais”, lembra.

De acordo com Artur Custódio, o tema vai ser discutido em um encontro em São Paulo, no dia 21 de abril, com a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário.

Apesar da cessão das casas de Curupaiti para os antigos pacientes, o projeto de revitalização do local, incluindo preservação ambiental e valorização cultural, ainda não foi implantado. Procurada pela Agência Brasil, a Empresa Estadual de Obras Públicas (Emop) não se pronunciou sobre o andamento do projeto e das obras.

De acordo com a Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos, responsável pela acomodação dos índios da Aldeia Maracanã, o local vai receber um centro de referência da cultura indígena e uma aldeia modelo, com acesso independente, para abrigar os indígenas que aceitaram ser transferidos. Por enquanto, os 12 índios estão em abrigos provisórios, montados em contêineres ao lado do Pavilhão Jesuíno Albuquerque.

 

Edição: Carolina Pimentel

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