Microsseguro cresce como alternativa de reserva de dinheiro em comunidades carentes

28/12/2012 - 20h51

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Com a inclusão de brasileiros das classes sociais D e E na chamada classe C, cresce nas comunidades de mais baixa renda do país um tipo de seguro popular, de menor preço, chamado microsseguro, anteriormente considerado inacessível para essa faixa da população.

“É um projeto importante para a divulgação do seguro junto a essas classes que, até então, tinham pouca informação sobre os produtos de seguro”, disse à Agência Brasil a diretora executiva da Confederação Nacional das Empresas de Seguros (CNseg), Solange Beatriz.

Criado no Morro Santa Marta, onde nasceu, no bairro de Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, Ricardo Pires tornou-se corretor de seguros da própria comunidade. “O seguro era um campo desconhecido para a comunidade, que não aderia porque era um produto caro, voltado para as classes A e B”, disse em entrevista à Agência Brasil.

A disseminação do seguro é recente no Santa Marta, onde as informações começaram a chegar por volta de 2010, depois de instalada a primeira Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), em 2007. “É uma questão de cultura. Precisa de tempo”, explicou Pires.

Solange Beatriz reconhece que o microsseguro não vai oferecer resultado financeiro de curto e médio prazos. “O resultado esperado é muito mais na expectativa de disseminação do produto, ao qual, até então, essas famílias desconheciam que teriam acesso”.

Os ramos mais demandados são os mais massificados: seguro de vida, de acidentes pessoais, funeral, residencial. A diretora executiva da CNseg diz que, mais do que esperar crescimento do produto, o mercado aposta na boa acolhida do microsseguro.

“Quando se fala de crescimento, dá ideia de coisa pujante. Nós não temos essa expectativa. Acho que vai se conquistando muito mais com a disseminação, com o padrão, por exemplo, da comercialização, da distância, as informações que são necessárias, o cuidado que essas pessoas têm que ter ao contratar”.

Solange ressaltou que o trabalho que o setor está fazendo é de aprendizado em mão dupla, ou seja, tanto para o consumidor, como para as próprias empresas. “É lidar com pessoas que têm pouca informação e tentar facilitar o produto tanto pelo lado do empresário, em dar coberturas pouco complexas, com menos exclusões, como pelo próprio regulador. Acho que essa consciência existe”.

O segredo consiste em alcançar a expectativa que as pessoas têm, disse Solange. Ela esclareceu que ninguém está interessado em receber quilos de papel, mas ser bem informado. “A boa informação não está traduzida em metros de papel”.

Solange Beatriz considera um ponto positivo a participação de pessoas da própria comunidade que sejam qualificadas para atuar como corretores e trabalhar na divulgação do microsseguro para os moradores. “São essas práticas que vão se aproximar mais das expectativas dos consumidores”.

Para a diretora da CNseg, a massa de consumidores brasileiros não é homogênea. “Ele não tem informação, mas tem capacidade de discernimento. Dá informação para ele, que ele sabe decidir”. Ela disse que o microsseguro está fazendo todo mundo pensar que as empresas é que precisam se relacionar de uma forma mais moderna com seu consumidor.

“No sentido de que ele [consumidor] é o rei e exige o produto, e ela [empresa], para vender, tem que atender à demanda do cliente”. O próprio regulador, que é o governo, está consciente disso.

Ricardo Pires disse que o seguro de vida é o mais demandado na comunidade do Morro Santa Marta. Segundo ele, nem sempre as famílias estão preparadas para a morte de um parente e não têm dinheiro de reserva para os procedimentos necessários. O microsseguro na modalidade vida veio suprir essa lacuna.

“Antigamente, quando tinha a bandidagem, as famílias tinham que pedir ajuda para eles. Hoje, elas estão vendo o resultado, com um seguro que cabe no bolso deles, que é muito barato. Já teve casos de pessoas que [precisaram usar o seguro] e foi tudo perfeito”.

O microsseguro oferecido na comunidade tem custo entre R$ 6 e R$ 20 mensais. Ricardo Pires informou que a média atual de gasto por família com seguro é até R$ 30. “Passou desse valor, já começa a ter desfalque no orçamento mensal”. Até o momento, cerca de 320 famílias aderiram ao microsseguro no Santa Marta.

Edição: Tereza Barbosa