Para autores de projetos, instrumentos musicais são inovadores e contribuem para o meio ambiente

04/10/2012 - 12h48

Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil


Brasília - Os responsáveis pelos projetos da caxirola e do pedhuá – os dois instrumentos musicais escolhidos pelo Grupo Executivo da Copa do Mundo de Futebol de 2014 (Gecopa) para representar e promover a imagem do Brasil por ocasião do evento esportivo – destacaram a importância do reconhecimento governamental a suas iniciativas e rebateram as críticas de que tentam se apropriar de objetos tradicionais africanos e indígenas de domínio público para faturar.

"Desde o começo, quando o [músico baiano] Carlinhos Brown nos procurou para viabilizar o processo produtivo da caxirola, há um ano e meio, já tínhamos em mente que o instrumento precisava do reconhecimento do governo para que pudesse ter aceitação nacional e pudéssemos oferecer um instrumento democrático, acessível, de massa. A chancela do Ministério [do Esporte] dá autenticidade e credibilidade para que sigamos com o projeto", disse à Agência Brasil o vice-presidente de Negócios da The Marketing Store, agência multinacional responsável por viabilizar o projeto de produzir cerca de 190 milhões de unidades da caxirola, instrumento de percussão inspirado no caxixi, de origem africana.

"A chancela do governo é o pontapé inicial. É importantíssima para o desenvolvimento do projeto", avaliou o professor de educação física paraibano Alcedo Medeiros de Araújo, autor do projeto Pedhuá - O Som do Brasil na Copa. Ele apresentou ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi) o pedido de registro de marca e patente do apito de plástico desenvolvido a partir do instrumento originalmente usado por indígenas para atrair aves.

Com a inclusão do projeto entre as 96 iniciativas privadas escolhidas por seleção pública pelo grupo executivo da Copa, Medeiros estima comercializar ao menos 50 milhões de apitos de diferentes modelos. O mais simples deverá custar R$ 10. Calculando por baixo, o apito poderá movimentar algo em torno de meio bilhão de reais.

Medeiros e Júnior confirmaram a negociação de parceria, nos moldes da que a agência fechou com Carlinhos Brown, para viabilizar a produção em larga escala do instrumento.

Os dois também foram categóricos: os projetos são inovadores, visam a disseminar o uso e o conhecimento a respeito dos instrumentos tradicionais em que se inspiraram. Além disso, na avaliação deles, haverá ainda o ganho com a preservação do meio ambiente, já que a utilização de matérias-primas como a madeira e o sisal (usadas nos instrumentos originais) seria insustentável e inviabilizaria a produção da quantidade necessária a um evento do porte da Copa do Mundo.

"A essência do projeto da caxirola é a democratização do instrumento por meio da produção em larga escala. Isso, além de baratear o produto, nos permitirá ter um padrão. O pedido de patente, portanto, não tem a ver com a origem da inspiração, mas principalmente com as inovações necessárias para tornar viável a produção em larga escala. Criamos um novo produto e é a partir dessa nova composição técnica que solicitamos a patente", disse Britto Júnior, estimando a criação de 4 mil empregos com a iniciativa.

"Para um evento como a Copa do Mundo, a produção tem que ser em escala industrial. Se fôssemos fazer o pedhuá com matéria-prima natural, conforme a tradição, degradaríamos a natureza assustadoramente", argumentou Medeiros. "A patente que eu solicitei ao Inpi é relativa ao instrumento que eu reconstruí com um novo design, com um projeto industrial e uma marca que é esquecida, mas que vamos retomar e que será de utilidade para o país. Antes eu, no Brasil, com esta patente do que um japonês como o que queria patentear o cupuaçu. Isso, sim, seria um absurdo."

Medeiros destacou que, como o seu pedido de patente diz respeito ao processo de fabricação industrial do pedhuá de plástico, os artesãos e as comunidades que produzem apitos em pequena escala poderão continuar vendendo seus produtos. Da mesma forma, o torcedor, mesmo durante a Copa do Mundo, poderá levar aos estádios o modelo que preferir.

"Queremos contribuir para promover a imagem do Brasil, apoiar artesãos e ONGs indígenas e ajudar na preservação da natureza e na prática esportiva em geral", acrescentou Medeiros. “Estimulando o uso do pedhuá, vamos dar nova utilidade ao instrumento, que, hoje, é usado principalmente para a caça de pássaros. Sei que meu trabalho é idôneo, que minhas intenções são as melhores possíveis e que minha ideia é inovadora", reforçou Medeiros.

A Agência Brasil tentou entrevistar Carlinhos Brown, mas por motivo de agenda, o músico não pôde conversar com a reportagem.

 

Edição: Juliana Andrade e Lílian Beraldo