Fernanda Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A mímica como forma de arte é, muitas vezes, vinculada à figura do pierrô apaixonado, uma associação comum feita pelas pessoas. Algo que ajudou a criar esse esteriótipo no Brasil foi o trabalho do francês Marcel Marceau, um dos mímicos mais lembrados pelo público, que pintava o rosto de branco, fazia gestos e não emitia nenhum som. Porém, segundo Victor de Seixas, coordenador da 4ª Mostra de Mímica Contemporânea, a mímica como arte é bem mais abrangente que essas estéticas e pode ter, inclusive, espetáculos com personagens falantes.
A mostra, em cartaz na capital paulista, traz oficinas, peças teatrais, performances, sarau e colóquio até o dia 29 deste mês. Seixas conta que um dos objetivos do festival é mudar um pouco da visão estigmatizada de que a mímica se restringe à estética de Marceau. “A mímica não necessariamente é um espetáculo mudo. Ela é uma abordagem teatral, em que o corpo está em primeiro plano”, explica.
No evento, dois espetáculos apresentam falas: Um deles, O Dia em Que Aprendi a Dizer NÃO, do Colectivo El Sótano, do Rio Grande do Sul, brinca com a cultura do futebol, usando a bola e a estética do esporte na mímica. O outro é Jogo da Memória, da companhia baiana Mimos, que além de usar a fala e os movimentos corporais, trabalha com vários projetores. “Todos os espetáculos deste ano têm a característica da parte visual”, conta.
Há também trabalhos de outros países, como a performance cênica Blue, da libanesa Chantal Maihac e o workshop Narração Coreográfica e o Corpo do Ator, da companhia parisiense À Fleur de Peau. Do Chile, a peça Mutation, da companhia La Escena Física, fala sobre as transformações do mundo moderno. “Trata da relação do homem com a mutação que o mundo sofreu. [Isso] acaba gerando uma mutação no homem também”, resumiu.
Nesta edição, a ideia do festival é ter como foco as regiões brasileiras. Por isso, há atrações da Bahia, do Rio Grande do Sul, Ceará, de São Paulo e Goiás. O QQISS!? - As aventuras de Pendu e Cami, do grupo goiano Sonhus Teatro Ritual, é uma montagem visual inspirada na história do Mágico de Oz e na banda inglesa Pink Floyd. “É uma história bem imagética que se exprime por imagens], um teatro bem visual. Usa efeitos de luz, manipulação de objetos, máscaras. É um trabalho bem bonito”, explicou Seixas.
A abertura do festival ocorreu na sexta-feira (21) e reuniu alguns dos principais profissionais mímicos de São Paulo, que se apresentaram em um sarau. De acordo com Victor de Seixas, o sarau promove um encontro rico, pois cada um dos artistas tem uma escola e estilo diferentes. “Dentro da mesma arte, você tem diferentes possibilidades”, contou.
Para exemplificar, Seixas compara a mímica com a dança. “Na dança, por exemplo, você tem vários tipos. Você tem a clássica, o balé, o forró. E a mímica também navega pelo mesmo caminho, existem vários tipos de mímica”, disse. Ele contou que, na mostra paulistana, o tipo valorizado foi a vanguarda e, nas oficinas, priorizou-se a criação corporal. “Algumas mais próximas da dança, outras, da voz em movimento”, completou.
As oficinas estão abertas para todo o público, mas algumas são voltadas aos profissionais da área. Para participar, é necessário fazer a inscrição pessoalmente na Rua Três Rios, 363, bairro Bom Retiro. Para todos os espetáculos, os ingressos começam a ser distribuídos uma hora antes de cada apresentação. Todas as atividades e atrações são gratuitas. Mais informações podem ser obtidas pelos telefones: (11) 3221-5558 / 3222-2662.
Edição: Talita Cavalcante