Cruz Vermelha Brasileira pode ter que vender terreno para pagar dívida de R$ 44 milhões

14/09/2012 - 19h31

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - A Cruz Vermelha Brasileira, no país desde 1908, atravessa uma das piores crises de sua história. A entidade deve aproximadamente R$ 44 milhões em dívidas trabalhistas e tributárias, além de repasses à Cruz Vermelha Internacional. Para saldar o passivo, que já levou à penhora do prédio-sede e ao bloqueio de contas bancárias, uma das saídas pode ser a venda de parte do terreno da sede, na região central da cidade.

O secretário-geral da instituição, coronel da reserva Paulo Roberto Costa e Silva, recém-empossado, disse que já há proposta para a compra da área e a ideia será debatida na assembleia geral da entidade, nas próximas semanas. O terreno da Cruz Vermelha fica próximo a um complexo de edifícios comerciais em fase de acabamento e que em breve abrigará parte dos funcionários da Petrobras.

“A quantidade de ações trabalhistas chega a 150. O valor total, pelo o que se pode avaliar, já se aproxima de R$ 40 milhões. O nosso edifício-sede está penhorado pela Justiça do Trabalho. Temos proposta de um consórcio de empresas de utilizar o terreno, que é um quarteirão inteiro, para obter rendimentos capazes de financiar a instituição.”

Além das dívidas trabalhistas, a Cruz Vermelha Brasileira deve, desde 1994, a contribuição à Cruz Vermelha Internacional, no valor aproximado de US$ 2 milhões, ou cerca de R$ 4 milhões. Parte da dívida é originada nos repasses que as unidades da Cruz Vermelha nos estados deveriam enviar para a entidade nacional, mas que também não ocorre. Uma auditoria será contratada para verificar as contas da entidade.

As principais fontes de renda são cursos e prestação de serviços na área de saúde, na doação de pessoas físicas e jurídicas e subvenções do Poder Público. Até o ano de 2000 a Cruz Vermelha recebia um percentual da Loteria Federal. Atualmente, há uma proposta tramitando no Congresso para restabelecer essa ajuda.

Por causa do descontrole nas contas, a presidência da entidade foi substituída na última terça-feira (11), com o pedido de demissão apresentado pelo então presidente Walmir de Jesus Moreira Serra e o vice Anderson Choucino. No lugar, assumiu Nício Lacorte, que presidia a unidade no Rio Grande do Sul.

O objetivo de Costa e Silva é revitalizar totalmente a instituição, historicamente ligada ao socorro e à prestação de assistência em casos de catástrofes ou guerras. Recentemente, a Cruz Vermelha atuou no desabamento do Morro do Bumba, em Niterói, e nas enchentes da região serrana do Rio.

Segundo Costa e Silva, a Cruz Vermelha Internacional informou que, se não houver uma solução na entidade brasileira, ela poderia ser descredenciada ou até mesmo fechada. “Eles disseram: 'ou faz [o saneamento], ou nós fazemos'. Chegamos ao fundo do poço. Não tem mais como aprofundar a crise. Se não, nós poderíamos passar por um constrangimento internacional muito grande. Para mim é uma questão de Estado. No momento em que nós aspiramos a uma cadeira no Conselho de Segurança das Nações Unidas, como é que podemos mostrar ao mundo que não temos competência de gerir uma instituição como a Cruz Vermelha Brasileira”, disse.

 

Edição: Aécio Amado