Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Brasília – As empresas brasileiras estão investindo menos no exterior. Segundo o Banco Central (BC), no primeiro semestre deste ano, US$ 7,058 bilhões saíram do país para a compra de participação no capital de empresas no exterior, mas US$ 4,248 bilhões de vendas de ativos voltaram para o Brasil.
Com isso, o investimento brasileiro líquido (saída, descontado o retorno) em aquisição de participação de capital no exterior ficou em US$ 2,81 bilhões, no primeiro semestre deste ano, redução de 80,7% em relação a igual período do ano passado (US$ 14,597 bilhões).
No caso dos empréstimos intercompanhia (entre as empresas no Brasil e no exterior), houve mais vinda de recursos para o país do que liberação para o exterior. Nos seis meses do ano, a receita líquida, dinheiro que o país recebeu a mais do que liberou, ficou em US$ 7,822 bilhões, ante US$ 17,081 bilhões do primeiro semestre de 2011.
Os dados do BC também mostram que as receitas de lucros e dividendos do Brasil cresceram, ao passar de US$ 690 milhões, no primeiro semestre do ano passado, para US$ 4,029 bilhões, nos seis meses deste ano.
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Lima, um dos motivos para esse aumento nas receitas de lucros e dividendos é a alta do dólar, que estimula o envio de recurso para o Brasil. Além disso, segundo ele, as incertezas geradas pela crise econômica internacional fazem com que as empresas brasileiras prefiram trazer o dinheiro de volta em vez de reinvestir no exterior.
“O crescimento das economias desenvolvidas reduziu-se bastante. Assim, diminuiu também a perspectiva de negócios. No Brasil, mesmo com o desaquecimento do nível da atividade, há o consumo dinâmico das famílias e essa perspectiva continua para os próximos anos”, disse Lima.
Para o diretor do escritório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) no Brasil, Carlos Mussi, essa redução dos investimentos brasileiros no exterior é um tendência de curto prazo. “A internacionalização deve continuar e será incrementada, se a economia internacional se estabilizar dentro de um cenário mais previsível. É uma época de ajuste, de cautela diante do cenário internacional”, disse.
Na avaliação de Mussi, além de as empresas brasileiras estarem de olho no consumo interno, também estão trazendo recursos para projetos estratégicos no país, como nas áreas de mineração e petróleo. “Há necessidades maiores de investimento no país”, acrescentou.
De acordo com Lima, há uma série de vantagens para as empresa investirem no exterior, como maior proximidade dos clientes, aumento da capacidade de inovação tecnológica, acesso a mercados e a matérias-primas.
De janeiro a junho, a maior parte da saída de investimento brasileiro direto para compra de participação de capital foi para a República Dominicana, com 18,5%, seguida pela Espanha (14,1%) e pelos Estados Unidos (10,1%). O setor que mais recebeu investimentos é o de serviços (financeiros, transportes, infraestrutura, telecomunicações, entre outros), com 50,7%. A indústria ficou com 46,5% dos investimentos e a agricultura, pecuária e extrativa mineral, com 2,8%.
O estoque de investimento brasileiro no exterior chegou em junho a R$ 239,842 bilhões, sendo que, desse total, R$ 225,134 bilhões correspondem a participação no capital e US$ 14,708 bilhões, a empréstimos intercompanhia.
Edição: Juliana Andrade