Da BBC Brasil
Brasília - O embaixador do Brasil em Damasco, Edgard Casciano, disse que a violência na capital síria chegou a um ponto em que funcionários da embaixada brasileira foram orientados hoje (19) a não ir trabalhar. Por telefone, ele falou à BBC Brasil sobre o clima na cidade com os ataques rebeldes e os confrontos entre tropas do governo e opositores.
De sua residência em Damasco, Casciano disse que desde ontem (18) a capital vive seus dias mais violentos, com intensos tiroteios que deixaram as ruas completamente desertas. "O perigo é real. É impossível pôr os pés na rua. É uma situação extremamente problemática", disse o embaixador.
Ele contou que os tiroteios e as explosões eram tão intensos na noite de ontem que não conseguiu dormir. "Helicópteros sobrevoavam constantemente e dava para ouvir muitas explosões que, pela intensidade, eram consequência de armas pesadas".
Há quatro anos em Damasco, Casciano disse que a situação na capital é muito tensa e já não há garantias de segurança para as embaixadas estrangeiras no bairro. "Até cogitamos que o governo brasileiro enviasse agentes de segurança para proteger a embaixada. Mas com o aeroporto fechado, a ideia foi deixada de lado".
O embaixador também falou que os combates respingaram em seu bairro, com balas perdidas atingindo a vizinhança e até a sua casa. "Uns dias atrás, eu achei balas de rifles Ak-47 em meu jardim. Ninguém está seguro na cidade", declarou.
A ofensiva do Exército Livre da Síria (ELS) contra tropas leais ao governo em Damasco começou no domingo (15) e já entrou em seu quinto dia. Vários bairros nos subúrbios ao sul da capital já foram tomados por rebeldes.
Um atentado suicida, ontem, matou o ministro de Defesa, seu vice e o cunhado do presidente Bashar Al Assad. O paradeiro do líder sírio ainda é desconhecido, já que ele não fez nenhuma aparição pública desde o atentado ao quartel-general das forças de segurança do país.
O governo vem mobilizando mais tanques e tropas em direção à capital e, segundo analistas, antecede uma grande batalha pela cidade.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 16 mil pessoas já morreram no país desde o início da revolta, há mais de um ano, que exige a renúncia do presidente Assad.
De acordo com o diplomata, a embaixada já tem um plano de contingência para retirar brasileiros do país se a situação continuar se deteriorando.
No entanto, disse ser difícil prever atualmente o número de brasileiros no país, pois vários deles já deixaram a Síria sem informar a representação em Damasco.
"Quase todos têm também a nacionalidade síria e não expressavam o desejo de sair do país. Mas com o agravamento da situação, vários deixaram a Síria sem avisar. Alguns foram para Beirute [capital do Líbano], outros voltaram ao Brasil”.
Segundo ele, a maioria dos brasileiros registrados é da região de Damasco, mas há uma comunidade na região de Latakia e Tartous, na costa da Síria, reduto de alauítas (grupo sectário ao qual pertence Assad) e cristãos.
"Naquela região da costa, a situação é bem menos tensa, com poucos combates entre os rebeldes e o governo. Então não fomos contatados ainda por brasileiros".
Em contrapartida, o setor consular da embaixada vem registrando um grande aumento no pedido de visto de turista por parte de cidadãos sírios. "Muitos têm parentes no Brasil e desejam sair do país momentaneamente".
Para ele, o atual clima é de "guerra aberta" na Síria. E que seus amigos sírios mostram-se muito preocupados e com medo do futuro."A guerra em Damasco os deixou extremamente apavorados", declarou o embaixador.