Dúvidas sobre mecanismo de cooperação entre países do Brics persistem

19/06/2012 - 21h25

Daniel Lima e Wellton Máximo
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - A criação de um instrumento de cooperação financeira entre os componentes do Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – indica que os países emergentes apostarão na ajuda mútua para se contraporem ao poder econômico das nações desenvolvidas. A falta de detalhes sobre o funcionamento dessas ferramentas, no entanto, provoca dúvidas em especialistas sobre a capacidade de esses mecanismos serem implementados.

Ontem (18), durante reunião preparatória para o encontro do G20, no México, os membros do Brics concordaram em formar um fundo conjunto com recursos das reservas internacionais dos países. O grupo anunciou ainda a possibilidade de abertura de negociações para que as economias emergentes também façam operações de troca de moedas entre si.

Para o professor de economia Décio Munhoz, da Universidade de Brasília (UnB), iniciativas semelhantes de cooperação financeira, como os acordos de Chiang Mai – que prevê auxílio financeiro entre países asiáticos – e as trocas de moedas entre o Federal Reserve (Banco Central norte-americano) e alguns países durante o auge da crise econômica nos Estados Unidos, são recentes. “Não dá para avaliar os reflexos com profundidade”.

Segundo Munhoz, uma questão central no funcionamento do fundo é se ele será formado por contribuições em dólar e euro ou se os aportes serão feitos nas moedas de cada país do Brics. Caso os países utilizem apenas as próprias moedas, o fundo terá capacidade de ação limitada, financiando apenas trocas comerciais entre os membros do grupo. “É um mecanismo muito restrito porque quando você troca moeda, elas só poderão ser utilizadas dentro daqueles países”.

Munhoz diz ainda que é difícil saber se o fundo conjunto será posto em prática por causa das próprias incertezas entre os membros do grupo. “Até recentemente, a ideia era que os Brics criassem um banco de desenvolvimento, nos moldes do Banco do Sul”.

O economista e ex-diretor do Banco Central, Carlos Eduardo de Freitas, destaca que a utilização das reservas internacionais para compor o fundo conjunto reforçará o poder da China dentro do Brics. Isso porque o país asiático é o maior detentor de reservas externas no mundo. “Quem tem reservas genuínas é a China, que tem superávit nas contas externas”.

Freitas também critica a falta de detalhamento em relação ao mecanismo de cooperação financeira. Ele, no entanto, diz que o Brasil pode se beneficiar caso possa, em último caso, pegar dinheiro emprestado do novo fundo para estimular as exportações e a economia. Para ele, o anúncio desse instrumento representa uma reação à lentidão das reformas para ampliar o poder dos países emergentes no Fundo Monetário Internacional (FMI). “Mesmo com a crise, manteve-se uma resistência para uma mudança na divisão de poder. Então decidimos criar uma coisa meio que nossa”.
 

Edição: Rivadavia Severo