Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Organizações não governamentais (ONGs) cobram transparência das atividades que envolvem energia nuclear no país. Durante a Cúpula dos Povos, evento paralelo à Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), representantes de ONGs denunciaram que são ignorados os casos de trabalhadores contaminados por urânio no município de Caetité, na Bahia.
Durante debate da Articulação Antinuclear Brasileira e da Coalizão contra Usinas Nucleares no Brasil, a representante do grupo, Zoraide Vilas Boas, disse que recebe muitos relatos de contaminação por radioatividade. Ao lembrar do acidente de 2010, quando milhares de litros de licor de urânio vazaram, cobrou a divulgação de exames sobre a saúde dos trabalhadores e da população.
“Temos dificuldade de ter acesso à realidade do que acontece naquele complexo mínero-industrial. O setor nuclear é muito fechado, e eles não têm diálogo com a sociedade. Pelo contrário, procuram minimizar qualquer problema “, afirmou Zoraide, informando que, desde 2000, quando a mineração de urânio teve início em Caetité, o Poder Público foi acionado diversas vezes.
“Há 12 anos estamos levantando denúncias de trabalhadores, ex-trabalhadores e seus familiares, colhendo relatos de diverso acidentes não confirmados pela INB [Indústrias Nucleares do Brasil, que detém o monopólio da exploração de urânio], mas esse esforço tem sido quase inútil”, acrescentou. A instituição, ligada ao governo federal, nega todas as acusações.
Impactos ao meio ambiente em Caetité já foram comprovados na água, disse o coordenador do Grupo Ambiental da Bahia, Renato Cunha, que também participou da discussão na cúpula. Segundo ele, amostras colhidas por ONGs e pelo governo estadual comprovam níveis não toleráveis de radioatividade em águas subterrâneas.
Quanto aos impactos sobre os trabalhadores, pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no início deste mês, lançou um alerta. Segundo a pesquisa, os trabalhadores não fazem exames ocupacionais e muitos terceirizados não têm treinamento suficiente. A pesquisa também cita dados do governo estadual sobre a prevalência de certo tipos câncer acima da média na cidade.
Segundo os pesquisadores, a contaminação, em geral, ocorre durante a manipulação inadequada do concentrado de urânio, usado como combustível para as usinas nucleares. Pode ocorrer ainda durante a ingestão de água ou alimentos com teor de radioatividade acima do nível tolerável.
Acompanhe a cobertura multimídia da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) na Rio+20.
Edição: Nádia Franco