Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro- Os protestos estão nos carros, nas portas, nos muros, em postes e em peças de artesanato espalhadas por todo o bairro. Os moradores de Santa Teresa, no centro da cidade do Rio, permanecem mobilizados para ter de volta os tradicionais bondinhos. O sistema parou de funcionar em agosto de 2011, depois que um acidente deixou seis mortos e 40 feridos.
Depois de aprovar um referendo pela volta dos bondes, o próximo passo é a defesa na Justiça de cinco funcionários da manutenção do equipamento, responsabilizados pelo acidente do ano passado. O Ministério Público Estadual os acusa de negligência por não terem tirado de circulação o carro que bateu e por não terem notificado "por escrito" os problemas no sistema.
Ficaram de fora da acusação os gestores do governo que administravam os bondes, o que é questionado pela Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa (Amast). Para a organização, a acusação contra os funcionários é injusta e não leva em conta processos movidos no próprio Ministério Público contra a Secretaria Estadual de Transporte.
"O MP escolheu o caminho de penalizar quem não tinha o poder de gestão no sentido de comprar peças e contratar serviços para recuperar o sistema, tampouco o poder de paralisar os bondes, como deveriam ter feito", disse um dos diretores da Amast, o advogado Abaeté Mesquita. "Os funcionários cumpriam ordens, muitas vezes, apenas verbais"
Para provar que os mecânicos eram impotentes ante a precariedade do sistema, a Amast contará com o criminalista e ex-governador do Rio Nilo Batista. Professor titular de Direito Penal das universidades Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Nilo já assumiu a defesa de quatro mecânicos que o procuraram até agora.
"Estamos buscando, de um lado, a defesa competente desses funcionários, que estão injustamente prejudicados e, de outro, apresentar mais provas para que os verdadeiros responsáveis pelo acidente sejam punidos por omissão", acrescentou Abaeté. Ele lembra que o governo sabia da precariedade do sistema, alvo de pelo menos dois termos de ajustamento de conduta no próprio MPE.
Na defesa dos mecânicos e na mobilização para que os bondinhos voltem às ladeiras do bairro antes de 2014, conforme preveem os administradores, o símbolo da campanha vem sendo o motorneiro do bonde que bateu. Morto no acidente, Seu Nelson, como é chamado, estampa camisetas, páginas de redes sociais e foi tema de blocos de carnaval em 2012.
No próximo dia 31 de maio, uma reunião de moradores vai discutir a proteção de bens culturais de Santa Teresa. Além de propor ações em defesa dos bondes, a comunidade vai debater como proteger e recuperar gradis, mobiliário urbano e a paisagem do bairro, que é um dos principais cartões-postais da cidade do Rio de Janeiro.
Edição: Davi Oliveira