Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Brasília – Defensor ferrenho do software livre, o sociólogo especialista em cultura digital, Sérgio Amadeu, associou a defesa dos programas de computador de código aberto ao direito individual à preservação da memória pessoal e coletiva. "Lutar ou defender o formato aberto é um movimento vital para este mundo, já que vivemos uma revolução informacional que mal começou", declarou Amadeu ao participar, com o especialista em tecnologias da informação, Marcelo Branco, do debate A Revolução da Internet e as Transformações Sociais, na 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, evento que vai até o próximo dia 23, em Brasília.
Para explicar sua tese, o sociólogo citou a popularização das ferramentas de armazenamento digital, como hard disks (HDs) de computador, CDs-ROM e pen drives. Segundo ele, hoje, com apenas três HDs externos de computador de 1 terabit cada, cada qual do tamanho de um celular, seria possível a qualquer pessoa reunir, em sua própria casa, um conteúdo equivalente ao atualmente espalhado por todas as bibliotecas existentes no Brasil.
"Há 30 anos, isso não existia. E, daqui a dez anos, a maioria das nossas fotos, dos nossos dados, não estarão mais gravados em mídias analógicas. Estará tudo digitalizado, guardado em formato digital. Vamos conseguir acessar essas informações após dez anos delas terem sido digitalizadas? Vai depender do formato [do arquivo eletrônico em que a informação foi salva]", observa Amadeu.
O especialista entende esse processo como um eventual conflito entre a preservação da memória digital e os interesses comerciais das empresas que se opõem aos programas de código livre, que defendem os chamados softwares restritivos, cuja programação é criptografada e protegida por leis de direitos autorais, como, por exemplo, o sistema operacional Windows, da Microsoft.
"Estamos construindo uma sociedade dependente de formatos. E, no mundo digital, esses formatos delimitam, controlam, bloqueiam, aprisionam e criam dependências. Se um software desses for descontinuado [deixar de ser produzido], toda informação armazenada já era. Por isso, é vital lutar para que os formatos em que guardamos nossos arquivos estejam acima dos interesses comerciais de uma empresa que, detendo os softwares, em breve será detentora de nossa memória digitalizada", concluiu o sociólogo.
Edição: Lana Cristina