Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – O aumento de usuários nas linhas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e a falta de investimento em infraestrutura no sistema explica os sucessivos problemas no transporte ferroviário em São Paulo. O diagnóstico é do especialista em transportes, Sérgio Ejzenberg, consultor da Organização das Nações Unidas (ONU) no Programa de Desenvolvimento de Transportes para Bogotá e Colômbia.
“Isso não poderia ter acontecido. Na hora que você ofereceu integração [com o metrô e o ônibus] chamou gente para o sistema. E obviamente a rede [elétrica] não suporta a demanda atual”, disse Ejzenberg em entrevista a Agência Brasil.
“Você percebe que há uma exigência maior de alimentação, tudo isso precisa de energia. E a rede seguramente não estava preparada para isso. Isso explica os recorrentes problemas que sempre se dão no pico da manhã”, acrescentou.
Ontem, um problema elétrico na Linha 7 Rubi (Luz - Francisco Morato - Jundiaí) da CPTM causou a paralisação dos trens entre as 7h e as 10h, quando o funcionamento foi retomado parcialmente. Apenas às 15h a totalidade do sistema voltou a operar. Em uma das estações mais atingidas, a Francisco Morato, usuários revoltados com os sucessivos problemas destruíram catracas que davam acesso à área de embarque.
“Se a CPTM sabia [do aumento de passageiros] e não tomou providências, é inépcia. Se ela não sabia, é falta de planejamento. Se sabia, tomou as providências e não conseguiu orçamento para fazer, é decisão política equivocada. Há algum erro em algum lugar”, disse o especialista. A Agência Brasil enviou um pedido de entrevista à CPTM, mas até o fechamento desta reportagem não havia recebido retorno.
Hoje (30), deputados estaduais membros da Comissão de Transportes da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo fizeram uma inspeção na Estação Francisco Morato. “O que houve aqui é resultado da ebulição de tudo que vem ocorrendo nas linhas da CPTM. Há diminuição do investimento do governo e cortes no orçamento”, disse o deputado Alencar Santana Braga (PT).
De acordo com ele, a bancada do PT fez uma representação no Ministério Público Estadual pedindo apuração sobre omissão do governo na manutenção da linha. Na Estação Francisco Morato, os usuários precisam cruzar a linha do trem a pé antes de chegar a plataforma de embarque. “As pessoas são colocadas em risco”.
O PT também deverá convocar o secretário de transportes do estado, e o presidente da CPTM para esclarecer aos deputados as sucessivas falhas que estão ocorrendo no sistema.
Segundo a CPTM, a linha ontem demorou quase oito horas para retomar totalmente o funcionamento devido aos usuários que desceram dos trens e tomaram os trilhos. “Por questão de segurança, a circulação de trens que vinha ocorrendo parcialmente teve de ser interrompida, o que provocou lotação nas estações dessa linha”, informou a companhia, em nota.
O frequentador da Estação Francisco Morato, Fábio Alexandre Souza, disse que já recebeu advertência no trabalho por chegar atrasado. “Eu chego aqui às 4h30 da manhã. Não é questão de fila aqui dentro, é que não cabe ninguém dentro da estação. A fila fica lá fora. Ultimamente a situação tem piorado, o trem vem de 40 em 40 minutos, e já chega lotado de Franco da Rocha [uma das estações anteriores]”.
“Toda a semana tem paralisação por falta de energia. Principalmente no final de semana. Final de semana não tem trem. Demora 30 minutos para chegar e mais 30 para sair”, acrescentou.
Marcio Nazario Ribeiro, também usuário da estação, conta que ontem perdeu o dia de trabalho por falta da condução. De acordo com ele, além da lotação dentro da estação, há falta de espaço dentro dos trens. “Aqui tem todo o tipo de problema, paralisação, tem muito intervalo entre os trens e está sempre muito lotado. Os trens parecem lata de sardinha. Ontem mesmo eu não pude trabalhar, e aí tive que voltar para casa. Quando falta trem, eles tentam colocar ônibus, só que os ônibus já vinham cheios”.
Em nota, a CPTM disse que herdou sistemas antigos, e que agora estão recebendo investimentos para sua modernização. “Somente neste ano serão mais R$ 1 bilhão para obras de infraestrutura (sinalização, telecomunicações, energia, rede aérea, via permanente e construção de passarelas), além da modernização das estações mais antigas e da frota de trens”, informou a companhia em nota. A companhia ainda destacou que a rede aérea de energia e os sistemas de alimentação elétrica dos trens estão sendo trocados e novas subestações de energia estão sendo construídas em todas as linhas.
“Já está em fase de conclusão a licitação para contratação de projeto executivo, fabricação, fornecimento e instalação de novas subestações para as seis linhas, cujos investimentos são de R$ 664 milhões. Atualmente a CPTM possui 24 subestações elétricas para energia de tração, número que deverá chegar a 30 com a implantação das subestações em andamento e as que estão em licitação”.
No primeiro trimestre de 2012, a CPTM registrou 15 ocorrências que prejudicaram o funcionamento normal dos trens. Quatro dessas ocorrências foram provocadas por falha no sistema de alimentação elétrica. As demais, segundo a CPTM, foram causadas por fatores externos, como alagamento e falhas nas composições.
Edição: Rivadavia Severo