Pacificação é processo lento e não resolverá problema da violência no Rio em um governo, diz especialista

27/03/2012 - 9h36

Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil


Rio de Janeiro – Apesar de elogiada por especialistas e bem avaliada pela população em geral, a política de pacificação do Rio de Janeiro não tem conseguido evitar casos de violência mesmo nas favelas cariocas ocupadas pela polícia. Na Rocinha, comunidade da zona sul ocupada pela Polícia Militar há quase cinco meses, por exemplo, um confronto pelo controle da venda de drogas nas últimas semanas deixou mortos. A última vítima foi o líder comunitário Vanderlan Barros de Oliveira, executado ontem (27) com três tiros de pistola.

No Complexo do Alemão na zona norte, ocupado pelo Exército desde novembro de 2010, militares dizem que ataques de bandidos contra as tropas se intensificaram nas últimas semanas. Apenas em fevereiro deste ano, quase 90 ataques foram registrados pela Força de Pacificação do Exército.

No Morro do São Carlos, no centro da cidade, o Batalhão de Operações Especiais (Bope) teve que reocupar a comunidade em fevereiro deste ano, nove meses depois da instalação de uma UPP na área, devido à persistência da atuação de criminosos armados na favela.

No Morro do Salgueiro, na zona norte da cidade, que ganhou uma UPP em setembro de 2010, policiais e criminosos trocaram tiros durante um baile funk na comunidade, na semana passada, deixando dois feridos.

Para o especialista em segurança pública da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Michel Misse, a violência nas favelas é um fenômeno histórico, que não será resolvido nesse governo.

“A pacificação é um processo em andamento. Não é um processo simples, linear. Todos os principais fatores que estiveram envolvidos nos últimos 30 anos, na construção do problema, vão reaparecer aqui, vão reaparecer ali. O papel do Estado é ir regulando e controlando esses fatores. Agora, é um processo lento e isso não vai ser resolvido só nesse governo”, disse.

De acordo com Misse, já que o problema levará tempo para ser resolvido, é preciso saber se a política de pacificação terá continuidade ou não nos próximos governos. Segundo ele, é importante que a UPP não seja avaliada apenas de forma positiva. “Há aspectos positivos e aspectos ainda negativos, como moradores que têm reclamado sobre algumas coisas [em relação à atuação da Polícia Militar]”, afirmou Misse.

Para o pesquisador, cada favela tem uma especificidade que precisa ser levada em consideração no processo de planejamento e execução da política de pacificação e na resolução de problemas que venham a surgir, como o caso da Rocinha.

 

 

Edição: Lílian Beraldo