Embaixador francês diz que Europa não está interessada em guerra cambial

05/03/2012 - 22h44

Mariana Jungmann
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O embaixador da França no Brasil, Yves Saint-Geours, disse hoje (5) que a Europa não está interessada em uma guerra cambial e que, mesmo em crise, a zona do euro é o maior parceiro comercial do Brasil.

Saint-Geours participou de audiência pública na Comissão de Relações Exteriores do Senado sobre a crise europeia e disse que os países do euro estão buscando uma saída que “irrigue as economias” e não estão interessadas em uma moeda mais fraca. “O propósito não é baixar a taxa de câmbio, mas irrigar e dar possibilidade de a economia se desenvolver”, disse Saint-Geours.

Ele também questionou o uso recorrente da expressão “crise do euro” uma vez que a moeda europeia tem mantido alto valor em relação à moeda brasileira. “Quero que me expliquem por que se fala em crise do euro quando a moeda não baixa”, declarou o embaixador.

Saint-Geours citou alguns números da balança comercial brasileira para exemplificar que a Europa, e não a China, é o maior parceiro do Brasil, mesmo em crise. Como exemplo, o embaixador citou que no último ano a Europa comprou US$ 22 bilhões em produtos agrícolas brasileiros. “Mesmo que as exportações sejam de matérias-primas, o comércio é muito mais equilibrado do que com a China”.

O embaixador recebeu duras críticas dos estudiosos brasileiros que participaram do debate por causa do modo como a França e a Alemanha estão enfrentando a crise econômica. O rigor fiscal e os cortes de direitos sociais como aposentadorias, salário mínimo e cobertura de saúde pública que serão enfrentados pelos países com maiores problemas financeiros, a exemplo da Grécia, foram o principal alvo das críticas.

O professor historiador da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Francisco Carlos Teixeira, disse estar “decepcionado” com as propostas de solução para a crise europeia. “Eu esperava da Europa um pensamento mais rico, mais vigoroso, e não um pensamento de decretar, prussianamente [rigidamente], mais rigor para a sua população”. Teixeira declarou ainda o receio de que o fracasso da unificação econômica européia resulte em mais “barbárie” no coração da Europa – se referindo às guerras ocorridas no continente no século 20.

Na mesma linha, o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasil, Creomar de Souza, disse que os países europeus venderam para a população um “sonho de prosperidade” sem considerar os riscos. Apesar disso, Souza lembrou que a Europa serve de exemplo para o resto do mundo e deve encontrar uma saída que considere o meio ambiente e os direitos humanos. “Nós precisamos de uma Europa forte e unificada porque ela não é só uma referência econômica, mas porque ela é também uma referência social e política”.

O embaixador francês disse que a crise vai levar ao fortalecimento da União Europeia. Para Saint-Geours, os países da Zona do Euro irão encontrar uma forma conjunta de sobreviver ao problema. “A Europa está lutando de forma eficiente contra a crise. A Eurozona não vai se desmanchar e, pelo contrário, vai sair mais forte da crise”.
 

Edição: Rivadavia Severo