Secretário critica relatório da OCDE por ser pessimista quanto às metas de inflação e de crescimento

26/10/2011 - 16h00

Daniel Lima
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O secretário de Política Econômica, Márcio Holland, criticou duramente o relatório da Organização
para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre a economia brasileira divulgado hoje (26), principalmente no que diz respeito às estimativas de inflação e ao crescimento da economia. De acordo com o relatório, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá fechar o próximo ano em 6,2%, portanto, longe do centro da meta de 4,5%.

“O modelo não está bom, a equação não é boa, a metodologia econométrica não é boa e o coeficiente não é bom. Isso, obviamente, não vai dar uma previsão boa. Os economistas divergem sobre isso, aprendem e estão corrigindo isso”, disse o secretário.

Diante dos representantes da OCDE, Holland convidou os autores do relatório a conhecer o método do Banco Central, que, segundo ele, utiliza uma fórmula mais complexa e que, portanto, permite uma apuração melhor das estimativas para a inflação brasileira. O modelo citado por Holland é o Samba ou Stochastic Analytical Model with a Bayesian Approach, na sigla em inglês. Em tradução livre, é o Modelo Analítico Estocástico com Uma Abordagem Bayesiana, que, segundo o BC, é usado por vários bancos centrais do mundo e adaptado por técnicos do governo para a nossa realidade.

“Recomendo a OCDE a conhecer o modelo Samba utilizado pelo Banco Central, que é muito mais rico. O Brasil está acomodando isso é deve ser considerado isso. É normal entre economistas essas divergências metodológicas e faz parte do charme da ciência econômica, a qual eu me apego com tanto prazer”, observou.

Presente à apresentação do relatório, Marcos Bonturi, chefe adjunto do gabinete do secretário-geral da OCDE, defendeu o relatório e disse que os técnicos envolvidos nos estudos usam o mesmo modelo para todos os países. “A OCDE completou 50 anos e nós trabalhamos com mais de 40 países utilizando o mesmo modelo. Não quer dizer, evidentemente, que não possamos melhorar. Mas vou aceitar publicamente que o Márcio [Holland] apresente à OCDE o modelo Samba e aos outros países, que também estão interessados nessa nova maneira de calcular a inflação”, disse Bonturi.

Por sua vez, Holland disse ainda que a OCDE fez seus esforços de pesquisas e de análises, mas o governo brasileiro não concorda com uma série de informações e faz uma série de reservas ao relatório, principalmente, porque, segundo ele, há muitas inconsistências macroeconômicas na avaliação dos técnicos da entidade.
“Independentemente da avaliação do governo e do Ministério da Fazenda, há inconsistências. A OCDE olha para trás e minimiza a capacidade do Brasil de responder aos desafios que se colocam hoje. Talvez, contaminada pelas dificuldades ou pela estreiteza de reação dos países desenvolvidos [à crise]”.

O secretário de Política Econômica avaliou ainda que a OCDE não conseguiu perceber que o Brasil tem os instrumentos de política econômica necessários para manter o crescimento no país. Segundo ele, ao contrário dos Estados Unidos e dos países da Europa, que estão em crise, o Brasil segue em direção à redução da dívida pública, em proporção ao Produto Interno Bruto (PIB), e vem cumprindo as metas estabelecidas pelo governo brasileiro para o superávit primário.

“Este ano, [o Brasil] cumpriu [as metas de superávit primário] e irá cumprir no ano que vem. A consistência colocada nas tabelas do estudo da OCDE é colocada em dúvida não só pelos economistas do governo, mas pelos economistas do mercado. Aceitamos o debate, mas o governo tem se mostrado mais alinhado com o que vem acontecendo com o Brasil do que os analistas têm falado”.

Sobre o crescimento da economia, o governo brasileiro, de acordo com Holland, estima uma taxa entre 3,5% a 4%. Segundo o secretário, o governo não deixará a economia crescer menos do que o projetado pelo governo no ano que vem e em 2012. Ele disse que esse é o desafio do país, manter as taxas de investimento e as taxas de crescimento em equilíbrio.

“Se olharmos os programas do Brasil, como o Programa de Aceleração do Crescimento [PAC], o programa de banda larga, entre outros, mesmo os programas sociais, como o Brasil sem Miséria, além do Bolsa Família, por exemplo. Se olharmos para outras políticas de investimento que temos hoje no Brasil, veremos que o Brasil tem capacidade de investimento pelo que está previsto aqui [no relatório do OCDE]”.

O governo prevê crescimento do PIB de 5% no ano que vem, enquanto, no relatório, a OCDE prevê 3,5%.

Edição: Lana Cristina