Monica Yanakiew
Repórter da EBC
Buenos Aires – A crise estudantil no Chile passa pelo seu pior momento. O presidente Sebastián Piñera ameaça prender os estudantes que protestam há quase cinco meses, reivindicando uma ampla reforma na educação. Ele enviou esta semana um projeto de lei autorizando a polícia a prender estudantes que cometam excessos nas manifestações. As negociações foram interrompidas. Hoje (6), os estudantes caminharam pelas ruas de Santiago e foram reprimidos pela polícia.
Vinte oito manifestantes foram detidos. O confronto também deixou oito pessoas feridas: seis policiais e dois civis. “É inaceitável. O governo não para de zombar do nosso povo. A repressão e a violência de hoje não têm precedentes”, postou no Twitter, a porta-voz do movimento estudantil, Camila Vallejo. Ela convocou os chilenos para fazerem um “panelaço” esta noite.
Desde junho, os estudantes exigem educação gratuita e de qualidade para todos. As reivindicações são apoiadas por nove em cada dez chilenos e os protestos têm a participação de pais e professores. A crise vem contribuindo para a queda da popularidade de Piñera.
Há exatamente um ano, o presidente era o herói nacional, responsável pelo resgate de 33 mineiros, soterrados durante dois meses em uma mina no Deserto de Atacama. O fato atraiu a atenção do mundo inteiro e o resgate rendeu para Piñera um índice de popularidade de 66%. Hoje apenas dois em cada dez chilenos aprovam a sua gestão, segundo as ultimas pesquisas de opinião.
Em uma tentativa de reverter esse quadro, no ultimo dia 3 de setembro o presidente concordou em receber os estudantes no Palácio La Moneda, sede do governo, e propôs criar uma mesa de diálogo, para negociar uma reforma educacional. A intenção era resolver a questão até o final do mesmo mês, mas os dois lados não chegaram a um acordo sobre o cronograma das negociações e muito menos sobre o conteúdo.
Na quarta-feira passada (5), os estudantes voltaram a se reunir com o ministro da Educação, Felipe Bulnes, mas quatro horas depois abandonaram o prédio sem ter chegado a um acordo: o governo aceita as bolsas de estudo para 40% dos estudantes (os mais pobres, sem qualquer oportunidade de pagar seu ensino), os estudantes, no entanto, querem educação pública e de qualidade para todos, ou pelo menos, para 60% dos estudantes pobres.
No Chile, a ditadura de Augusto Pinochet privatizou a educação. Todas as universidades, públicas e privadas, são pagas e as mensalidades estão acima da capacidade de pagamento das famílias pobres. Quem não tem condições financeiras, recorre aos bancos para empréstimos e muitos levam uma década para saldar a dívida.
Além disso, os estudantes também querem uma reforma do ensino médio. Existem escolas públicas gratuitas, mas o ensino é de baixa qualidade. Segundo eles, em vez de investir mais na educação pública, o governo optou por subvencionar escolas privadas, para diminuir os custos com os alunos. Os estudantes denunciam que o Estado não fiscaliza a utilização dos subsídios, que muitas vezes terminam nos bolsos dos donos das escolas e não são investidos para melhorar a educação.
Para resolver o problema, o governo chegou a adotar medidas - mais bolsas de estudo, aumento no orçamento destinado à educação, créditos estudantis com juros mais baixos e maior fiscalização - que foram consideradas paliativas pelos estudantes, que insistem na maior presença do Estado no setor, algo que o governo não aceita.
Edição: Aécio Amado