Cruz Vermelha cria conta para arrecadar doações para vítimas da seca e da luta armada na Somália

15/08/2011 - 18h13

Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil

Brasília - O Comitê Internacional da Cruz Vermelha abriu hoje (15) uma conta corrente para arrecadar, entre brasileiros, doações para as vítimas do conflito armado e da seca que atingem a Somália. A instituição já havia anunciado precisar de um aporte orçamentário de 67 milhões de francos suíços (cerca de R$ 130 milhões) para poder prestar ajuda humanitária a mais de 1,1 milhão de somalis que se encontram em “situação desesperadora”.

As doações feitas ao comitê por meio da conta 01034-73, agência 1276, do banco HSBC servirão principalmente para que a Cruz Vermelha distribua alimentos aos mais necessitados. De acordo com a instituição, isso permitirá que milhares de pessoas que se encontram em situação de extrema vulnerabilidade e que não conseguem deixar a região sobrevivam à fome até a próxima colheita, em dezembro. A organização já atua no país africano desde 1977.

O conflito armado iniciado em 1991 a partir de confrontos tribais que evoluíram para guerra civil e o rigor da seca que atinge a Região Nordeste do continente africano (conhecida como Chifre da África) tem levado milhares de pessoas a um dos campos de refugiados existentes na Etiópia. De acordo com o Programa Mundial de Alimentos da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 1,6 mil pessoas cruzam a fronteira entre os dois países diariamente. Até o último dia 9, mais de 110 mil somalianos já se encontravam nos já lotados campos de Dolo Ado, no Sudeste da Etiópia.

A Cruz Vermelha, em julho, distribuiu quantidade de alimentos suficientes para suprir por um mês a 162 mil pessoas. Ainda assim, a situação é considerada tão grave que a entidade decidiu ampliar sua operação nas regiões Sul e Central do país e oferecer assistência a 1,1 milhão de pessoas que sofrem com a falta de água, de alimentos e com a luta armada entre o grupo islamita Al Shabaab, o governo transitório somali, as forças de pacificação da União Africana e as milícias.

Em um informe de 58 páginas divulgado ontem (14), a organização não governamental Human Rights Watch disse que todas as partes envolvidas no conflito cometeram graves violações que contribuem para a catástrofe humanitária que atinge o país.

Entre as violações relatadas estão a utilização de artilharia pesada, incluindo morteiros, em plena capital, Mogadiscio, e a repressão brutal contra quem viola as leis ou é acusado de traição em zonas controladas pelo Al Shabaab, com casos de execuções sumárias, decapitações públicas. Além disso, a Human Rights Watch afirmou que o grupo islamita recruta, à força, crianças e adultos para suas tropas, impedindo inclusive que a população fuja para regiões mais seguras.

Já o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) reiterou hoje (15) sua preocupação com a situação na Somália, reforçando o pedido para que os estados-membros atendam à convocação de emergência. O conselho afirmou não ter obtido ainda os recursos necessários para ajudar a população somaliana. No final de julho, o Itamaraty anunciou a doação de 38 mil toneladas de gêneros alimentícios à Somália e 15 mil toneladas para campos de refugiados na Etiópia.

Durante uma coletiva de imprensa, o presidente do conselho, o embaixador indiano Hardeep Singh Puri, pediu que as partes envolvidas no conflito armado permitam e assegurem o acesso de quem presta assistência humanitária aos necessitados.

“Os membros do Conselho de Segurança clamam a todas as partes e grupos armados [envolvidos no conflito] que assegurem o acesso irrestrito e em condições seguras aos trabalhadores humanitários para que possam ajudar aos somalianos que necessitam”, declarou o diplomata.
 

 

Edição: Rivadavia Severo