Classe média tradicional sofre com aumento de preços e infraestrutura congestionada, diz jornal britânico

21/07/2011 - 18h37

Da BBC Brasil

Brasília – O sucesso das políticas do governo brasileiro para tirar milhões de pessoas da pobreza na última década vem provocando a criação de dois tipos opostos de classe média, afirma reportagem publicada hoje (21) pelo diário econômico britânico Financial Times.

O jornal observa que os 33 milhões de brasileiros que deixaram a pobreza para integrar a nova classe média emergente foram os grandes beneficiados pelas políticas oficiais, enquanto a classe média tradicional considera que a situação no período ficou mais difícil.

"Os preços da carne e da gasolina dobraram, os pedágios nas estradas subiram e comer fora ou comprar imóveis ficou proibitivamente caro”, lista a reportagem.

O jornal comenta que 105,5 milhões dos 190 milhões de brasileiros são considerados hoje de classe média, mas que os 20 milhões da classe média tradicional, com renda mensal maior que R$ 5.174, estão “no lado perdedor”.

“Diferentemente da Índia, onde a antiga classe média se beneficiou com a criação de novas indústrias, como o fornecimento de serviços terceirizados de tecnologia da informação, muitos na classe média brasileira reclamam de aumentos de preços, impostos, infraestrutura congestionada e mais competição por empregos”, diz o jornal.

A reportagem cita o economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas, que se dedica a estudar a classe média, segundo o qual a renda dos 50% mais pobres cresceu 68% em termos reais nos últimos dez anos, enquanto os 10% mais ricos viram sua renda crescer somente 10% no período.

Neri destaca ainda que a renda média dos analfabetos brasileiros cresceu 37% entre 2003 e 2009, enquanto aqueles com estudo universitário tiveram perda de 17% no mesmo período. Para o economista, tais mudanças representam um reordenamento da riqueza no país, que estava pendente desde a abolição da escravatura, em 1888.

A reportagem afirma que “o processo tem sido em parte impulsionado pelo maior acesso à educação”, com o aumento da oferta de cursos universitários privados à nova classe média, que passou a competir com a classe média tradicional por empregos.

O Financial Times lembra que a presidenta Dilma Rousseff lançou, recentemente, um plano para tirar mais 16 milhões de pessoas da pobreza, o Plano Brasil sem Miséria, mas afirma que isso não garantirá a ela os votos da classe média tradicional, concentrada nos estados industrializados do sul do país, especialmente em São Paulo.

“Alguns reclamam que o governo ajuda os pobres por meio de benefícios e aumentos salariais e os ricos, por meio de empréstimos subsidiados para suas empresas”, diz a reportagem. “Isso inunda a economia com dinheiro, levando à inflação, a qual o Banco Central tenta, então combater, com aumentos de juros, penalizando a classe média”, continua a reportagem.

O jornal conclui afirmando que “embora muitos nas classes médias tradicionais do Brasil concordem com a distribuição de renda, eles estão temerosos sobre o quanto isso está lhes custando”.