Antiga residência da princesa Isabel, Palácio Guanabara pode ser aberto à visitação este ano

13/05/2011 - 15h45

Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Em fase final de reformas, o Palácio Guanabara, em Laranjeiras, zona sul do Rio, sede do governo fluminense, poderá ser aberto à visitação pública após o término da restauração, previsto para o próximo mês de agosto. A visitação, admitida ontem (12) pelo secretário da Casa Civil, Regis Fichtner, permitirá que moradores do Rio e turistas conheçam o interior do palácio que foi, no Império, a residência da princesa Isabel. Há exatos 123 anos, no dia 13 de maio de 1888, em outro palácio da cidade, o Paço Imperial, Isabel, na condição de regente do Brasil – seu pai, o imperador Dom Pedro II, estava em tratamento de saúde na Europa – assinou a Lei 3.353, mais conhecida como Lei Áurea, que pôs fim à escravidão no Brasil.

Para o historiador Milton Teixeira, é muito importante para a cidade que o Palácio Guanabara seja aberto à visitação. “Em seu interior há obras de arte e ambientes ainda preservados da era republicana, embora nele não haja mais nada da época da princesa Isabel”.

Construído inicialmente para abrigar uma residência particular, o palácio foi erguido em 1853 pelo comerciante português José Machado Coelho, também responsável pela abertura da rua ornada de palmeiras que dá acesso à casa a partir do bairro do Flamengo, a atual Rua Paissandu.

“Ele gastou tanto para construir o palácio que acabou indo à falência”, conta Teixeira, especialista em história da cidade do Rio de Janeiro. O imóvel foi levado a leilão na mesma época do casamento da princesa com Luís Felipe Gastão de Orleans, o conde D’Eu. “A Câmara dos Deputados achou por bem adquiri-lo e dá-lo de presente ao casal, que lá residiu de 1865 até a Proclamação da República”, diz o historiador.

Na fase republicana, o prédio foi tomado pelo governo federal e teve diversos usos, inclusive como quartel. Em 1908, foi remodelado para hospedar o rei de Portugal que, no entanto, foi assassinado antes da viagem programada ao Brasil. A partir do governo Hermes da Fonseca (1911), o local serviu como residência presidencial, até 1949, quando passou a ser a sede da prefeitura do Distrito Federal. Depois de 21 de abril de 1960, com a transferência da capital para Brasília, o palácio se tornou sede do governo do estado da Guanabara e, depois da fusão, em 1975, do governo do estado do Rio de Janeiro.

A fachada atual do prédio, que acaba de ser restaurada, não corresponde à da época da princesa Isabel, mas à da reforma feita em 1908. O palácio era alaranjado, cor que está sendo recuperada com a reforma.

Quanto à Rua Paissandu, ela foi ampliada pelo Conde D’Eu, já que não ia até à Praia do Flamengo. O calçamento era de paralelepípedos colados uns aos outros, para que as rodas da carruagem imperial não fizessem muito barulho. “A Paissandu era tão importante que mereceu uma música de Carlos Gomes, Se essa rua fosse minha, que, até hoje, muita gente canta sem saber que se referia a ela”, conta Milton Teixeira.

Hoje um espaço cultural muito visitado, com salas de exposições, teatro, restaurantes, livraria e uma refinada loja de CDs e DVDs, o Paço Imperial, na Praça Quinze de Novembro, no centro, foi o local da assinatura da lei que aboliu a escravidão, aprovada quatro dias antes, em 9 de maio, pela Câmara dos Deputados. “Na época, ele era chamado de Paço da Cidade, porque o palácio imperial era o da Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão”, explica o historiador.  

Após a assinatura, a lei foi mostrada ao povo da janela central do Paço, que dava para a Baía de Guanabara. “Do outro lado da praça, num prédio vizinho, um mulatinho sorria, um tal de Joaquim Maria Machado de Assis, e a partir daí começou um grande carnaval”, comenta, bem-humorado, Milton Teixeira.

Anseio da população, já que o Brasil era a última nação escravagista da América Latina, a Lei Áurea pôs fim, segundo Teixeira, a um entrave ao desenvolvimento do país.

“Enquanto tivéssemos escravos não podíamos ter indústrias. Não havia condições. No momento em que todo o trabalho manual era feito por escravos, não podíamos ter operários”, afirma.

Edição: Lílian Beraldo