Daniella Jinkings
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O Grupo de Trabalho Tocantins (GTT), criado para localizar, recolher e identificar os restos mortais de desaparecidos políticos da Guerrilha do Araguaia, será reformulado e ampliado. Uma portaria interministerial institui o Grupo de Trabalho Araguaia (GTA), como forma de atender parentes de desaparecidos e representantes da sociedade civil que criticavam a atuação do Ministério da Defesa frente ao grupo.
A partir de agora, além do Ministério da Defesa, o Ministério da Justiça e a Secretaria de Direitos Humanos vão coordenar o GTA. De acordo com a ministra da secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, é natural que exista um trabalho compartilhado. “O trabalho desenvolvido foi um bom, mas este é um novo momento, estamos integrando uma série de ações do governo. Pretendemos ter melhores resultados”.
A Guerrilha do Araguaia foi um movimento político no começo da década de 1970, que surgiu para enfrentar a ditadura militar. Guerrilheiros e militares foram mortos em combates na selva amazônica. Até hoje, dezenas de participantes do movimento estão desaparecidos. Em 2009, a juíza da 1ª Vara Federal do Distrito Federal, Solange Salgado, determinou que o governo federal reiniciasse as buscas na região.
De acordo com o ministro da Defesa Nelson Jobim, a reformulação do GTT vai reforçar as ações desenvolvidas pelo grupo. Ele defendeu a atuação do grupo até agora. “[Essa mudança] não corresponde ao descrédito do que foi feito. Em momento algum os militares comandaram o GTT, quem comandou fui eu e não sou militar. Eles fizeram o que tinha de ser feito e o que era necessário”.
Em relação à falta de informações aos familiares, Jobim afirmou que o grupo sempre teve abertura a todo o tipo de informação. “Basta você abrir o site e tem um link que trata de todos os relatórios, os acompanhamentos dos partidos políticos. É evidente que o processo democrático é um processo de crítica. E são críticas necessárias. Faz parte do jogo e do procedimento”.
Para o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o trabalho vinha sendo bem feito. “É uma tarefa difícil, precisamos integrar as forças desses ministérios para chegar a um resultado. Vamos somar nossas forças para bons resultados”.
Segundo a integrante do grupo de trabalho e irmã de uma desaparecida política, Diva Santana, a inclusão de mais ministérios ao grupo é um avanço. “É uma luta de quase 40 anos, a qual inicialmente deu-se apenas com familiares e pessoas da sociedade civil organizada. É um compromisso da União, é sua responsabilidade a busca pelos desaparecidos políticos”.
Ela garantiu que não há desconforto por parte dos familiares em relação à participação dos militares nos trabalhos de busca, no entanto, ainda não se chegou ao resultado esperado. "Acreditamos que houve uma operação limpeza [a retirada das ossadas anteriormente], não na sua totalidade. Recebemos as informações dos colaboradores e quando vamos verificar, não encontramos nada".
Em dois anos de atuação do grupo, foram encontradas apenas dez ossadas, que estão armazenadas no Hospital Universitário de Brasília (HUB). Os restos mortais ainda não passaram por perícia do Instituto Médico-Legal de Brasília.
Edição: Rivadavia Severo