Ocupação de prédios abandonados de São Paulo completa dez dias sem solução

13/10/2010 - 21h16

Vinicius Konchinski
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – A ocupação de quatro prédios do centro da capital paulista por integrantes da Frente de Luta por Moradia (FLM) completa hoje (13) dez dias. As cerca de 2,8 mil pessoas que entraram nos edifícios, no início da semana passada, continuam nos locais e não pretendem sair até que seja acertada uma solução.

O coordenador da FLM, Osmar Borges, disse que as famílias querem uma moradia definitiva. Em reuniões com representantes da prefeitura de São Paulo, elas reivindicaram a construção de casas na periferia da cidade e pediram, principalmente, a transformação de edifícios vazios em moradias populares. De acordo com ele, uma reunião com representantes da secretaria e da coordenação das ocupações está pré-agendada para a próxima segunda-feira (18).

“Estamos aguardando a manifestação do Poder Público. Enquanto isso, a única opção é continuar com as ocupações”, afirmou Borges. “Estamos limpando e organizando os prédios para que as famílias possam ficar melhor acomodadas.”

A reforma de prédios abandonados é uma das opções apontadas por urbanistas para a solução problema de moradia na maior cidade do país. Especialistas ouvidos pela Agência Brasil afirmam que muitos edifícios paulistanos, inclusive os ocupados pela FLM, poderiam abrigar pessoas sem teto.

“Os prédios são uma solução viável”, disse Kazuo Nakano, do Instituto Pólis. “Com novas ligações elétricas, hidráulicas e algumas adaptações, os edifícios poderiam abrigar parte das famílias que os ocupam hoje, com certeza.”

A urbanista Simone Gatti, da TC Urbes, concordou com Nakano. Segundo ela, a reforma tem uma relação custo-benefício interessante, principalmente quando levadas em conta as facilidades a que os moradores desses prédios teriam acesso por estarem abrigados no centro da cidade. “Transporte, escolas, saúde, tudo fica mais perto”, enumera.

Ela ressaltou, porém, que projetos deste tipo têm que dar condições para que famílias de baixa renda ocupem os prédios reformados. Segundo ela, é entre os que ganham até três salários mínimos por mês (R$ 1.530) que se concentra o déficit habitacional do país. Para a urbanista, o governo precisa atuar para que as famílias sem teto sejam beneficiadas por intervenções em imóveis desocupados.

“Há famílias que não têm como pagar o financiamento de um apartamento. Precisaríamos repensar as políticas habitacionais do país para atendê-las”, observou. “Uma opção é criar uma espécie de aluguel social, como existe em outros países”, observa Simone ao citar o modelo no qual o beneficiado pelo programa habitacional não tem a propriedade do imóvel e paga um aluguel subsidiado pelo Estado.

O ex-secretário de Planejamento de São Paulo, Jorge Wilheim, disse que se há ocupações é porque as políticas atuais são ineficientes. O urbanista classifica a ação dos integrantes da FLM como ilegal, porém reconhece que as ocupações são uma “forma de luta da população”. “O que não pode é ficar vazio um prédio que poderia ser habitado”, acrescentou.

A Secretaria Municipal de Habitação informou, em nota, que 53 prédios da capital já foram declarados de interesse social e serão reformados e que está disposta a negociar com os integrantes da FLM uma solução para o fim das ocupações.

Edição: Lana Cristina