Transporte público em Joanesburgo ainda reflete segregação racial

09/06/2010 - 8h18

Vinicius Konchinski
Enviado Especial

Joanesburgo - O apartheid, regime de segregação racial vivido na África do Sul por quase 50 anos, foi extinto oficialmente em 1990. A separação entre negros e brancos, entretanto, ainda parece vigorar no transporte público de Joanesburgo.

Nas filas de ônibus ou trens da cidade, fica clara a separação dos cidadãos pela cor da pele. Ônibus e vans praticamente são de uso exclusivo dos negros. Nos táxis e na nova linha de trem que liga o centro de Joanesburgo ao aeroporto, só se vê brancos.

A diferença de preço dos transportes é a primeiro causa da segregação. A maioria negra e pobre do país paga por uma viagem de van, por exemplo, entre 3,50 rands - a moeda sul-africana - (R$ 0,60) e 22 rands (R$ 5,30), dependendo da distância percorrida. Enquanto isso, a minoria branca e rica paga 100 rands (R$ 25) por uma viagem única de trem até o aeroporto.

O valor da passagem, entretanto, não é o único fator da separação. Segundo a moradora branca de Joanesburgo, Georgia Zachos, a segregação entre negros e brancos no transporte público é tão consolidada na cultura da população que se tornou uma barreira quase intransponível. “Mesmo que eu queira pegar uma van, não consigo. Não conheço os sinais, nem falo a língua dos motoristas”, conta.

Em Joanesburgo, pegar uma van não é tarefa fácil. Uma linguagem de sinais indica os destinos de um dos meios de transporte públicos mais comuns na cidade. O dedo indicador apontado para cima significa sentido periferia, o indicador para baixo, sentido centro ou viagem curta.

A língua também é um entrave. De maioria negra, os motoristas geralmente não falam inglês, mas uma das outras dez línguas oficiais da África do Sul.

As dificuldades, porém, não são exclusividade dos brancos. Muitos negros de Joanesburgo não conseguem se locomover por áreas que antigamente eram reservadas aos brancos.

Mesmo motoristas profissionais, como o negro Abuti Kgarito, perdem-se com frequência por ruas de bairros nos quais, no passado, eram proibidos de transitar. “Na época do apartheid, eu não podia passar por aqui”, diz Kgarito, enquanto trafega por região nobre de Joanesburgo. “Por isso, as vezes, eu não consigo encontrar alguns endereços.”

No bairro de Soweto, de maioria negra, ele afirma que dirige com tranquilidade. Kgarito afirma que não se lembra de ter transportado em sua van algum branco à região.

Edição: Graça Adjuto