Mutirão de registro civil atrai mais as mães

19/04/2010 - 21h00

Gilberto Costa
Enviado Especial*

Recife – A Secretaria de Direitos Humanos não tem levantamento oficial com o perfil das pessoas que estão percorrendo os mutirões de registro civil no Nordeste e na Amazônia Legal para pedir certidão de nascimento e outros documentos básicos, como a carteira de identidade e a carteira de trabalho.

A falta de uma estimativa ou contabilidade formal não impedem, entretanto, a constatação de que são as mulheres o principal público dos mutirões, confirma a coordenadora de Promoção do Registro de Nascimento da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) Beatriz Garrido.

Em Pernambuco, a Secretaria Especial da Mulher do governo estadual criou a campanha "Nenhuma pernambucana sem documentos" para atrair o público feminino. Segundo Daniela Xavier, da Gerência de Fortalecimento Sócio-Político das Mulheres, "há uma questão de gênero" no fenômeno de sub-registros.

Segundo Daniela, é comum que muitas mulheres não tenham todos os documentos porque ao cuidar dos afazeres de casa e dos filhos acabam deixando para segundo plano suas necessidades e deixam de usufruir de direitos como a aposentadoria e a inscrição em programas como o Bolsa Família. "Ainda existe a cultura de que ela fica em casa e o marido vai para a rua", diz a técnica explicando que as mulheres procuram o mutirão para fazer o próprio registro tardio.

Quando não são alvo direto dos mutirões, as mulheres acabam atuando como incentivadoras da campanha. Esse foi o caso da lavradora aposentada Josefa Ferreira da Silva que levou o marido Severino Antônio Ferreira para fazer o registro tardio do filho José da Silva Ferreira, já com 20 anos, no mutirão ocorrido no último sábado (17) em São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana de Recife.

"Quando eu tinha emprego, só folgava quando o cartório estava fechado. Depois eu fiquei doente e fiquei sem poder andar", explica Severino. Josefa diz que se negava a ir sozinha ao cartório e lamenta a demora do registro, que segundo ela atrapalhou a matrícula do filho no colégio e o recebimento, no passado, da Bolsa Família.

Dois anos mais jovem que o filho de Josefa e Severino, Taís Letícia Justino Ferreira (18 anos) pediu que uma colega a acompanhasse até o mutirão para tirar os documentos. "Agora eu sou cidadã", declarou depois de solicitar o registro.

*O repórter viajou a convite da Secretaria de Direitos Humanos, ligada à Presidência da República

 

 

Edição: Lílian Beraldo