Terra em disputa já foi o maior latifúndio do Brasil

17/11/2009 - 18h58

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os indígenas que viviam na terra Marãwatsede foram expulsos da área em 1966 após aocupação comandada pelo fazendeiro Ariosto Riva, emsociedade com o Grupo Ometto. Juntos, eles tomaram controle de umaárea que, segundo o Conselho Indigenista Missionário(Cimi), chegou a ter 1,7 milhão de hectares formando a FazendaSuiá-Missu, à época o maior latifúndio doBrasil.Depois de trabalharem gratuitamente para Riva, enfrentarem conflitos com seusempregados, passarem fome e serem deslocados três vezes dentro da fazenda, cerca de 230 índios Xavante foramtransferidos por meio de avião da Força AéreaBrasileira (FAB) para uma fazenda a 400 quilômetros, a Missão Salesianade São Marcos. Uma semana após o deslocamento, 70índios morreram por causa de sarampo.Depois doGrupo Ometto, o controle da fazenda Suiá-Missu foi passadopara a empresa Liquifam Agropecuária Suiá-MissúS/A, que foi sucedida em 1980 pela empresa petrolíferaestatal italiana Agip do Brasil S/A. A empresa italiana anunciou a devoluçãoda terra aos indígenas em junho de 1992 durante a ConferênciaECO 92, após acordo com o governo brasileiro.Naquelemês, segundo descrito no relatório do juiz PedroFrancisco da Silva, a Fundação Nacional do Índio(Funai) “tomou conhecimento de que as terras da fazenda estavamsendo loteadas por centena de famílias de 'sem terra',com apoio de políticos da região, grandes fazendeiros eda própria Agip do Brasil, com o intuito de obstacularizar oretorno dos Xavante à área”.De acordocom o Cimi, o objetivo da “reforma agrária privada”, comoficou conhecida, era a de ter pequenos proprietários quearrendariam suas terras para a produção agropecuáriade grandes latifundiários, que assim se livrariam de qualquerlitígio direto pela exploração de terraindígena.Ademarcação da terra foi concluída pela Funai em1993 e a homologação feita cinco anos depois pordecreto presidencial. Em 2004 um grupo de índios Xavanteretornam à Marãwatsede após acamparem por seismeses à beira da estrada. Segundo o Cimi, há 900indígenas nas terras que continuam invadidas pelos posseiros efazendeiros que entraram com recurso na Justiça.