Milícias avançam sobre os morros e já dominam 41,5% das favelas cariocas, aponta estudo da Uerj

10/11/2009 - 18h11

Luiz Augusto Gollo
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O avanço das milícias sobre as favelas do Rio de Janeiro nosúltimos três anos é o dado mais importante e alarmante do estudodivulgado hoje (10) pela coordenadora do Núcleo de Pesquisa daViolência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Nupev-Uerj),a socióloga Alba Zaluar, responsável juntamente com o Laboratório deEstatística Aplicada da universidade pela análise dos dados de váriaspesquisas e levantamentos feitos em favelas cariocas nos últimos anos.“Épreciso unir as Forças Armadas, a Polícia Federal e as políciasestaduais e municipais numa política de segurança pública capaz deenfrentar este avanço”, disse a socióloga, ao divulgar que as milíciascontrolavam 10% das áreas de maior violência na cidade em 2005 ealcançaram 36% em 2008. Na realidade, a escalada das milíciasacabou por tornar-se a principal constatação porque elas dominavam 108favelas há quatro anos e saltaram para 400 no ano passado. Surgidas novácuo da ausência do Estado nas áreas conflagradas da cidade, asmilícias se impuseram expulsando os traficantes e exercendo o controlesobre a comunidade.“As milícias tomaram conta da venda de gásem bujão, da 'gatonet' [TV a cabo clandestina] e foram se expandindo até controlar qualquertransação imobiliária nas favelas que ocupam. É um grande negócio, quepode render até mais do que o tráfico de drogas”, enfatizou Alba Zaluar.Umdos gráficos apresentados ilustra a preocupação da coordenadora doNupev: em 2005, 53% das áreas de maior violência estavam nas mãos doComando Vermelho (facção criminosa); em 2008 esta porcentagem era de 38.8%. No mesmoperíodo, a facção Amigos dos Amigos caiu de 14,5% para 11,5%; e oTerceiro Comando caiu de 13,8% para 12,3%. As favelas tidas comoneutras somavam 8,6% em 2005 e em 2008 não passavam de 1%. Já asmilícias saltaram de 10% para 36%.Segundo o levantamento, hojeas milícias dominam 41,5% das favelas, contra 40% que estão nas mãos doComando Vermelho. Enquanto as milícias se expandiram da Barra da Tijucae da Baixada de Jacarepaguá para a zona oeste, o Comando Vermelho fixoumais fortes suas raízes na zona norte, nos subúrbios e na zonaportuária.“As guerras que temos visto, como a do Morro dosMacacos [Vila Isabel] com o Morro São João [Engenho Novo] são reflexo direto destaguerra por território entre as facções criminosas que estão perdendoespaço para as milícias. É preciso fazer alguma coisa urgentemente”,disse ela.As unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e novaspolíticas de segurança pública também foram apontadas por Alba Zaluarcomo fatores importantes no combate à violência nas áreas estudadas,mas ela ressaltou que é necessário “mudar a maneira como a polícia vêos favelados e como eles veem a polícia. É preciso haver uma relação deconfiança”.Do universo de 965 favelas incluídas nas pesquisasdesenvolvidas até o ano passado, metade se situa na área próxima à Baíade Guanabara, do aeroporto internacional e da zona portuária. As trêssão localizações estratégicas para o abastecimento de drogas, armas emunições, daí a socióloga defender ações conjuntas das Forças Armadas edas várias polícias existentes.A preocupação maior com a morteviolenta dos jovens até 30 anos de idade levou Alba Zaluar a umaconclusão que considera da maior relevância: “A possibilidade de morrerentre os 15 e 30 anos está diretamente ligada ao nível de escolaridadeda mãe”. Com base nisto, ela traçou o perfil das mulheres que precisamde mais atenção do Estado como pobres, faveladas e de baixaescolaridade.