Bilhetes inéditos de Getúlio Vargas são doados ao Arquivo Nacional no Rio

08/11/2009 - 10h40

Luiz Augusto Gollo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Quase700 bilhetes manuscritos pelo então presidente Getúlio Vargas em seugabinete no Palácio do Catete foram entregues por doação aoArquivo Nacional, que já os incorporou ao patrimônio e providenciarácópias para o Museu da República. As mensagens são dirigidas ao chefede gabinete de Getúlio, Lourival Fontes, e estavam com o filho de seu amigo e xaráLourival Baptista, o psiquiatra Francisco Baptista, que as guardou pormais de 40 anos, a pedido de Fontes. A doação foi feita na sexta-feira (6).Os bilhetes desmentem pelomenos um mito do mandato presidencial de Vargas: o de que ele,mergulhado em crises políticas e administrativas, não dava atenção àrotina de governo. Num dos bilhetes, Getúlio pede ao chefe de gabineteinformações sobre donos de caminhões conhecidos como paus de arara,que estariam cobrando preços escorchantes de nordestinos que migravam paraa então capital da República. Em outro bilhete, o presidentemanda o chefe de gabinete informar ao prefeito da capital, Mendes deMoraes, os nomes dos três indicados aos cargos com salários de 7 mil,6 mil e 5 mil cruzeiros e pede que pergunte se não teria outros, de4 mil e 3, para os quais tinha seus candidatos.Numa das mensagens, com data próxima da de seu suicídio, em 24 de agosto de1954, Getúlio escreveu: “Querem me aprisionar; nãosou prisioneiro de ninguém”. A maior parte dos escritos, no entanto,não traz intenções desconhecidas, mas sim trata de assuntosburocráticos do dia a dia do presidente da República.Os 682bilhetes de Getúlio Vargas foram entregues à guarda do ex-governadossergipano Lourival Baptista ao tempo em que era deputado federal, nadécada de 60, quando Fontes se tornou amigo tão próximo dele que fezquestão de usar o apartamento funcional vizinho, num prédio da Câmarados Deputados, em Brasília.O acervo ficará disponível ao público interessado no Arquivo Nacional, na Praça da República, Rio de Janeiro.Provavelmente será editado um livro contextualizando as mensagens noperíodo em que foram redigidas (1951 e 1954), com o auxílio da netado ex-presidente, Celina Vargas do Amaral Peixoto, presente àsolenidade de doação do acervo.