Amazônia pode ser laboratório de novo modelo de desenvolvimento, diz Ignacy Sachs

28/10/2009 - 13h42

Luana Lourenço*
Enviada Especial
Belém - Com25 milhões de habitantes e a maior biodiversidade do planeta, aAmazônia pode ser um “laboratório” para as sociedades dofuturo. A avaliação é de um dos maiores pensadores dodesenvolvimento sustentável no mundo, o diretor do Centro de Estudossobre o Brasil Contemporâneo da Escola de Altos Estudos em CiênciasSociais de Paris, Ignacy Sachs. “É preciso colocar aAmazônia na rota do desenvolvimento ambientalmente sustentável esocialmente includente”, defendeu Sachs, em apresentação durantereunião do Fórum Amazônia Sustentável. “[AAmazônia]não é nem um museu nem um terreno a ser destruído sem critérios”,acrescentou.Encontrar formas de desenvolvimento sustentávelna região, segundo Sachs, é fundamental não só para o Brasil, maspara o planeta, que depende do futuro da floresta para manutençãode condições de sobrevivência, principalmente diante das ameaçasdas mudanças climáticas. “Nesse sentido somos todos amazônidas,já que o futuro da espécie vai depender em boa medida do futuro quese dará à Amazônia”, ponderou. Ele acredita que oscaminhos para aplicar o modelo de “biocivilização moderna” àAmazônia dependem de medidas que passam pela regularizaçãofundiária e até por ideias poucos usuais, como o uso de dirigíveiscomo opção à construção de estradas na região, vetoreshistóricos do desmatamento. “Ao discutir o futuro daAmazônia, temos que olhar todo o leque de tecnologias, desde as maissimples até as mais futuristas. O dirigível tem um futuro nessaregião do mundo. Transportar produtos perecíveis da Amazônia parao resto do Brasil é insustentável.”Sachs também defendeumais investimentos em pesquisa sobre a biodiversidade, a necessidadede implementação efetiva do Zoneamento Econômico Ecológico e aexigência de certificação para os produtos florestais. Aocomentar o mercado de carbono, defendido como uma das soluções parafinanciamento do mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamentoe Degradação (Redd), Sachs recomendou cautela na venda de créditosgerados a partir da floresta para que não se tornem uma licençapara que os compradores continuem a emitir gases de efeito estufa.“Créditos de carbono são como indulgências que os papasvendiam na Idade Média, em que se podia assassinar um parente setivesse o necessário para pagar uma indulgência. O Brasil não podedeixar de entrar nesse jogo, mas as soluções também têm que serbuscadas fora do mercado de carbono”, disse, ao elogiar o FundoAmazônia, baseado na ideia de contribuições voluntárias parafinanciar a redução do desmatamento.