Magistério começa a ter dignidade resgatada no Brasil, dizem especialistas

15/10/2009 - 7h16

Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Em meio aconquistas, impasses e desafios, especialistas em educaçãoouvidos pela Agência Brasil apontam que o magistériocomeça a ter sua dignidade resgatada no Brasil. A aprovaçãodo piso salarial para a categoria e o lançamento do PlanoNacional de Formação dos Professores são citadoscomo pontos promissores, mas que ainda necessitam de maior tempo eadaptação para gerar resultados.

Para opresidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais deEducação (Undime), Carlos Eduardo Sanches, épossível comemorar avanços., mas o país ainda mantém “uma série de dívidas”com os docentes. “Precisamosavançar muito no sentido de garantir carreiras que sejamcompatíveis com as necessidades do país, atrativas paraos professores e que valorizem o seu desempenho, para que eles sesintam estimulados”, disse.

Ele lembrou que ainda há um altonúmero de professores atuando em salas de aula sem ter nem mesmo a formaçãoinicial adequada para a educação básica. Outroproblema, segundo Sanches, é a necessidade de uma formaçãoespecífica para os docentes que atuam nas últimasséries do ensino fundamental. Ele garantiu, entretanto, estar “otimista”diante da possibilidade de formação gratuita para osprofessores. “É uma luz no fim do túnel que nos deixamuito motivados.”

De acordo com Carlos Sanches, oBrasil, nas últimas duas décadas, conseguiu combater ainflação, dar estabilidade à moeda e combater apobreza. "Se tivéssemos tido a mesma competência e osmesmos investimentos em educação, poderíamosestar colhendo frutos muito melhores”.

Ocoordenador-geralda Campanha Nacional pelo Direito à Educação,Daniel Cara, concorda que, em 2009, a União passou a sepreocupar mais com a formação dos professores. Na sua opinião, os programas anteriores voltados para a categoria eram “bastante tímidos”.

Cara acredita que a educação brasileira só terá “o que comemorar” quando obtiver indicadores de qualidade “minimamenteaceitáveis”. Para ele, o que se pode celebrar, hoje (15) - Dia do Professor - éque a sociedade brasileira já começa a debater umaeducação básica com mais qualidade. Resultadosmesmo, segundo o especialista, só em pelo menos uma década.

“Mesmocom a aprovação do piso salarial, o desafio ainda émuito grande, principalmente para os professores da educaçãoinfantil, que recebem o pior salário. No ensino médio,o principal desafio é fazer com que as pessoas que se formamem física, matemática ou química se interessempor lecionar”, disse.

Diantede um mercado de trabalho que oferece oportunidades mais promissorasfora do magistério, o risco, afirmou o coordenador, é que em alguns anos o Brasil não conte mais com professores dedisciplinas importantes para o seu desenvolvimento tecnológico.O jovem Lucas José Braga, de17 anos, estuda física na Universidade de Brasília (UnB). Antesmesmo de concluir o curso, ele já tem uma certeza: “Nãopretendo dar aula”, disse. O estudante pretende fazer mestrado edoutorado, mas quer mesmo atuar fora da sala de aula. Um dos motivosque o levaram a tomar a decisão é a deficiência na formação dealguns professores no ensino médio.Priscila Portela deAraújo, de 23 anos, escolheu estudar biologia na UnB por se tratarde uma área ampla e com diversas opções de trabalho. “Você podetrabalhar em laboratório, com preservação ambiental, pode dar aulae fazer muita coisa.” A jovem afirmou que tem vontade de serprofessora, mas reclama da falta de incentivo dos próprios docentesdo curso.“No próximo semestre vou fazer estágio em salade aula. Tenho medo, mas vai ser bom porque vou ver se sirvo mesmo ounão [para ser professora]”, afirmou Priscila.