China busca economia limpa com mudanças em modelo de desenvolvimento

30/09/2009 - 9h39

Tereza Cruvinel
Enviada Especial
Pequim (China) - A China começa a darrespostas às críticas em relação ao modelo de desenvolvimentobaseado no uso em escala do trabalho mal qualificado e no consumodescontrolado de matérias-primas. Busca-se agora um sistema maisracional, focado em tecnologia, qualificação da mão de obra,redução do consumo de recursos naturais e em uma eficiente políticaambiental, que parece ainda estar na infância.A nova orientação,que apareceu na primeira conversa com o vice-diretor do Serviço deInformação do Conselho de Estado, Xu Yiang, também é ouvida deoutros dirigentes, federais ou provinciais.A locomotiva chinesa éum sorvedouro de energia, hoje derivada principalmente do carvão,altamente poluente, que responde por 69% do gasto total. Há um planode economia de energia, mas como a indústria pesada – metalurgia,química e materiais de construção – continua crescendo, a ênfasedesta nova etapa é na substituição das fontes poluentes porenergias mais limpas, que retirem da China o lamentável posto demaior emissor mundial de gás carbônico.Cerca de 22% da energiaconsumida vêm do petróleo, 6% de hidrelétricas, 3% do gás naturale 1% de energia nuclear. Com 1,4 bilhão de bocas para alimentar, opaís não se interessou pelo programa brasileiro de biocombustíveis,apesar do empenho pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silvaneste sentido.Apostando na energiaeólica, a China assumiu o posto de segundo maior produtor do mundo,atrás apenas dos Estados Unidos. A previsão é de que sua produçãoanual aumente 10% todos os anos, mas hoje essa fonte ainda é umtraço na matriz energética. Os grandes cata-ventos, entretanto, jápontilham a paisagem.As hidrelétricastambém estão se expandindo e podem contribuir para a mudança damatriz poluente, uma vez que o país dispõe de vários caudalososrios. A Hidrelétrica de Três Gargantas, no Rio Yang-Tse, é a maiordo mundo, superando a binacional Itaipu.Agora estão surgindohidrelétricas menores, como a de Suofengying, na província deGuizhou. Como o rio corre no fundo de um vale profundo, foiconstruída sem desvio do curso de água, como é feito no Brasil.Apesar da fama depoluente, a China tem belíssimos parques naturais e tem se aplicadono desenvolvimento do conceito de ecoturismo. No parque deHuongguoshy fica a catarata de mesmo nome, a terceira do mundo emaltura, ao pé da qual se chega por uma escada rolante de mais de300 metros, um presente de uma multinacional.O governo sempre pedealguma contribuição, sob a forma de patrimônio público, àsempresas que autoriza a se instalarem no país. A poucos quilômetrosfica outro parque, dominado por um lago vulcânico, cavernasseculares e vestígios de populações primitivas.Existem dezenas deparques como esses em toda a China, assim como parques urbanos, comoo Parque do Céu, em Pequim, onde os chineses dedicam-se a jogarpeteca, dançar, fazer ginástica ou meditar sob as árvorescentenárias.Ushi é uma belíssimacidade às margens do Lago Tangjiashan, também chamada PequenaXangai, pela proximidade com a megalópole. Ali se passou o conflitocom a empresa Rio Tinto, que andou poluindo o lago, não cumpriu asexigências legais e acabou expulsa. Ushi vive essencialmente deindústrias limpas, como a de softwares, a de informática e aeletrônica, e de turismo.Até Buda viroumercadoria. Há dois anos foi construído em Ushi um suntuoso templo,espécie de Capela Sistina do budismo, tendo ao lado, sob uma coluna,uma enorme escultura de Buda, maior do que o Cristo Redentor. E queatrai milhares de turistas, naturalmente.