Apesar de poderio econômico, China quer afastar imagem de superpotência

30/09/2009 - 8h33

Tereza Cruvinel
Enviada Especial
Pequim (China) - Não deixa de serirônico que o último grande país comunista tenha sido o que maiscontribuiu, com a saúde de sua economia, seu colossal mercadointerno e um poderoso plano de investimentos em infraestrutura, paraa superação da crise internacional. Por isso, existe uma certainveja por parte do Ocidente. A preocupação do país, porém, é com ofuturo deste gigante, depois de encerrada a Guerra Fria que deixou omundo à beira de uma guerra nuclear de alto poder destrutivo.Ainda que a China nãoinvista pesadamente em armamentos – investe anualmente menos que oaumento anual do orçamento americano com esta rubrica – é naturalo receio de que ganhe corpo uma nova superpotência. Outra preocupação dosdirigentes chineses é com a desconstrução destes receios e dasanálises apontando a China como novo polo de poder mundial dentro dealguns anos. O interlocutor mais graduado e direto dos jornalistasvisitantes foi o vice-diretor do Serviço de Informação do Conselhode Estado, Xu Yiang.Yiang destaca que seupaís tem a maior população do planeta, as maiores reservascambiais, o terceiro maior Produto Interno Bruto (PIB) – deve setornar o segundo em 2010, ultrapassando o Japão – e as maiorestaxas de crescimento. “Apesar destes bons números, a Chinadefine-se como um país em vias de desenvolvimento, procura obem-estar e a harmonia de seu povo e não tem qualquer pretensão hegemonista ou de se tornar uma superpotência”, afirmou. Todos os interlocutoresrepetiram mais ou menos a mesma frase, desde os secretários-geraisdo Partido Comunista nas províncias até o poderoso ministro daInformação e Publicidade, Li Chongchun, membro do Conselho deEstado com o qual houve um encontro, e não uma entrevista.Mas os cuidados com aimagem da China no mundo, e em particular no Ocidente, já são, porsi, um indicador da preocupação com o protagonismo mundial do país.Os investimentos na África e na América Central representam bonsnegócios, mas também falam da busca de maior influência no cenáriomundial.Da mesma forma, amontagem de canais de comunicação em outras línguas busca aumentaras conexões internacionais. A agência Xinhua tem um canal eminglês, bem como a TV estatal CCTV, que transmite em espanhol e eminglês. A Radio China Internacional transmite em uma dezena deidiomas. Quanto ao modelopolítico, os chineses têm pouco a dizer. Desmentem que o regimeseja de partido único, lembrando a existência de oito partidosauxiliares ou “subordinados”, como dizem, ao hegemônico PCC, quetem mais de 70 milhões de filiados e na prática é quem dirige osdestinos do país. Lembram que há eleições diretas para as câmarasmunicipais, estaduais e para a Assembleia Popular, parlamentounicameral. Mas, com o quadro partidário que têm, o que pode haverde rodízio ocorre apenas entre as correntes do mesmo PCC.Não há liberdade deimprensa, acusa o Ocidente. De fato, todos os veículos, impressos oueletrônicos, são estatais. Mesmo assim, algo se move. Há na China,hoje, mais de 3 mil jornais com diferentes perfis e alguns têm seespecializado na denúncia de casos de corrupção no partido ou nogoverno. São estimulados a fazer isso pelo programa de combate àcorrupção.A pluralidade é umdiferencial em relação a regimes que têm apenas um jornal oficial,que fala em nome do governo. A delegação sul-americana visitoualguns jornais e ouviu sempre, de seus dirigentes, que trabalham cominteira liberdade e que o controle de qualidade das matérias éexercido por um comitê de redação escolhido entre os profissionaisda casa.É obvio, entretanto,que se o regime estivesse disposto a admitir questionamentos maisousados, teria aberto o setor de comunicações ao capital privado eestrangeiro, como fez em outros setores.